Condor e a lenda


01/08/2008 16:28

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Reza a lenda urbana na memória paulistana que a escultura intitulada Condor dá sorte a quem toca o seu dedo da mão esquerda. Testemunho da força dessa crendice popular é o estado de desgaste em que se encontra esta parte da escultura. Como a história surgiu e se perpetuou não há registro. Mesmo assim, a tradição de passar a mão sobre o dedo da estátua prossegue firme. Vai que dá certo...

A estátua do Condor retrata uma figura masculina inclinada sobre o corrimão da escada localizada na Praça Ramos de Azevedo, dando acesso ao Vale do Anhangabaú, ao lado do Teatro Municipal, na Capital paulista, e foi inspirada no principal personagem da ópera homônima, escrita pelo músico Carlos Gomes.

A figura faz parte do conjunto escultórico realizado pelo arquiteto italiano Luiz Brizzolara, em 1922, intitulada Fonte dos Desejos " Glória. O escultor se inspirou na famosa Fonte de Desejos localizada na cidade de Roma. O conjunto das obras, que inclui a estátua do músico Carlos Gomes e mais 12 esculturas em mármore, bronze e granito, representando a música, a poesia e alguns dos personagens das óperas mais famosas do compositor brasileiro, foi uma homenagem da comunidade italiana ao Centenário de Independência do Brasil, comemorado naquele ano. A peça foi feita em bronze (2,22m x 1,36m x 1,20m).

Condor é considerada a última ópera composta por Carlos Gomes, e estreou no Teatro Scala de Milão em fevereiro de 1891. O libreto é do italiano Mario Canti e a história se passa na Samarcanda (uma das cidades mais antigas do mundo que, hoje, está próxima à fronteira do Afeganistão). Condor, o chefe dos rebeldes da Horda Negra, contrários ao reinado, apaixona-se pela rainha Odaléa. O amor dos dois é condenado por ambos os lados e a crise que isso gera acaba levando à morte do líder, que se suicida quando os rebeldes invadem o palácio de Odaléa. Mais recentemente, em 2002, após décadas de esquecimento e ou cortes na partitura, o Condor de Carlos Gomes mereceu destaque em produção da edição do Festival Amazonas de Ópera. E, em 2003, o pesquisador Marcos Virmond lançou obra sobre a composição, Condor de Antônio Carlos Gomes: Uma Análise de Sua História e Música.



Carlos Gomes

Nascido em 11/7/1836, na pequena Vila Real de São Carlos, atual Campinas, Antonio Carlos Gomes, filho de Manoel José Gomes e Fabiana Maria Jaguary Cardoso, iniciou os seus estudos musicais aos dez anos, sob a supervisão de seu pai.

Em 1854, compôs a sua primeira missa, a de São Sebastião. Depois escreveu o Hino Acadêmico, a modinha Quem sabe? (Tão longe de mim distante) e a Missa de Nossa Senhora da Conceição.

Em 1860, mudou-se para o Rio de Janeiro e continuou seus estudos no Conservatório de Música. Apresentou suas primeiras óperas: A Noite do Castelo (1861), com libreto de Fernando Reis e Joana de Flandres (1863), com libreto de Salvador de Mendonça.

Com o apoio do imperador Pedro II, viajou para a Itália, onde, depois de ter aulas com o maestro Lauro Rossi, recebeu o título de maestro no Conservatório de Milão, em 1866.

Em 19/3/1870, estreou no Teatro Scala de Milão sua ópera mais conhecida, O Guarani, com libreto de Antonio Scalvini e baseada no romance homônimo de José de Alencar. Encenada depois nas principais capitais européias, essa ópera deu-lhe a reputação de um dos maiores compositores líricos da época.

Em razão das comemorações do aniversário de D. Pedro II, a ópera foi encenada no Rio de Janeiro e Carlos Gomes permaneceu alguns meses no Brasil, antes de retornar a Milão, com uma bolsa do imperador, para iniciar a composição da Fosca, que estreou em 1873, no Scala. Mal recebida pela crítica, mais tarde viria a ser considerada como a mais importante de suas obras.

Depois de compor Salvador Rosa (1874) e Maria Tudor (1879), Carlos Gomes retornou ao Brasil e fez uma temporada triunfante. Na Bahia e no Rio de Janeiro, dirigiu a montagem de O Guarani e de Salvador Rosa. Ainda na Bahia, apresentou Hino a Camões e, em São Paulo, realizou, no Teatro São José, a montagem de O Guarani.

A partir de então, Carlos Gomes passou a dividir seu tempo entre o Brasil e a Europa. No Teatro Lírico do Rio de Janeiro apresentou O escravo (1889), em homenagem à princesa Isabel e à Lei Áurea.

Com a proclamação da República, perdeu o apoio oficial e a esperança de ser nomeado diretor da Escola de Música do Rio de Janeiro. Retornou a Milão, onde estreou Condor (1891), no Scala.

Doente, deprimido e em dificuldades financeiras, compôs seu último trabalho, Colombo, que dedicou ao quarto centenário do descobrimento da América. A obra foi encenada em 1892 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.

Em 1895, Carlos Gomes dirigiu O Guarani no Teatro São Carlos, de Lisboa, cidade em que foi condecorado pelo rei Carlos I.

No mesmo ano, chegou ao Pará, já bastante doente, para ocupar a diretoria do Conservatório de Música de Belém. Morreu em Belém, em 16/9/1896.

alesp