Opinião - 100% de saneamento é questão ética e estratégica para São Paulo


15/03/2012 12:37

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O Dia Mundial da Água, 22 de março, terá como tema, neste ano, a relação da água com a segurança alimentar. É uma oportunidade mais do que adequada para verificar como o Estado de São Paulo, o mais rico e populoso do Brasil, passa pelo grande risco de ver agravada a qualidade de vida de seus moradores e comprometida a sua capacidade de crescimento em futuro bem próximo.

A ONU escolheu o tema deste ano para lembrar como a água é importante para a produção de alimentos. Só para se ter uma ideia, a produção de um quilo de carne bovina depende do consumo de 15 mil litros de água. Produzir um quilo de arroz demanda 1.400 a 3.600 litros de água.

Estes dados ainda não muito conhecidos da maioria da população fazem com que pensemos, e muito, na relevância do cuidado com a água, sobretudo em um estado como São Paulo, que tem 20% da população brasileira, porém menos de 2% da disponibilidade de águas superficiais no país. O Brasil é o país com maior disponibilidade de água do planeta, entretanto mais de 70% desses recursos hídricos estão na Amazônia, onde vivem 10% da população.

Água, então, já é um recurso mais do que limitado e caro em São Paulo. Imaginemos qual o volume de água para abastecer diariamente mais de 40 milhões de pessoas, em suas necessidades básicas de saúde e particularmente considerando o consumo de alimentos dessa população. E, se pensarmos em um horizonte de dez, vinte ou trinta anos, qual a quantidade de água não será necessário em São Paulo, para garantir a sobrevivência e qualidade de vida da população paulista que continuará crescendo? A ONU estima que, até 2050, será necessário aumentar em 70% a produção de alimentos, para satisfazer uma população global que terá naquele ano 9 bilhões de pessoas, contra os atuais 7 bilhões.

Além do mais, São Paulo é o Estado mais industrializado do país e também tem uma forte agricultura, em áreas como açúcar e álcool, eucalipto, frutas, hortaliças e outros produtos. A produção de uma tonelada de aço necessita de 15 mil litros de água, enquanto a produção de um litro de álcool demanda cerca de 13 litros de água. Como ficará a produção da indústria e da agricultura paulista daqui a duas ou três décadas, se não houver um maior cuidado com as escassas águas superficiais existentes no estado?

Fica evidente, então, a urgência de se chegar logo a 100% de tratamento de esgotos e de saneamento básico em geral em São Paulo. Somente o tratamento integral dos esgotos produzidos no Estado (o que pode gerar grande quantidade de água de reuso), aliado a avanços no combate ao desperdício, ao replantio maciço de matas ciliares, à destinação correta de resíduos, ao aproveitamento da água das chuvas e à distribuição igualitária das águas que se encontram represadas, entre outras ações inadiáveis, São Paulo terá uma situação realmente sustentável em recursos hídricos em futuro próximo.

Outro motivo de forte preocupação que São Paulo deve ter para acelerar o saneamento integral e de proteger os recursos hídricos de forma geral, é com o futuro impacto das mudanças climáticas em suas águas. Qual será o impacto de eventos extremos, como estiagens prolongadas, em um Estado que já tem altíssimo consumo e limitadíssima disponibilidade de água superficial? Lembremos que a bacia do rio Piracicaba, por exemplo, em períodos de estiagem, chega a ter a disponibilidade de água equivalente à de países secos do Oriente Médio.

O Dia Mundial da Água de 2012, enfim, dá muitos motivos para São Paulo pensar a fundo sobre a situação e o futuro de seus recursos hídricos. E dá mais razão para lamentarmos como o governo paulista, ao adiar os investimentos necessários em saneamento, coloca em xeque o futuro do estado, a saúde da população e o próprio crescimento econômico.



*Ana Perugini (PT), deputada estadual, é coordenadora da Frente Parlamentar de Acompanhamento das Ações da Sabesp.

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