CPMI federal que investiga roubo de cargas está instalada temporariamente na Assembléia paulista


23/11/2000 13:35

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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito federal que investiga o roubo de cargas instalou-se hoje, temporariamente, na Assembléia Legislativa, mas os depoimentos previstos não aconteceram porque as pessoas convidadas não foram localizadas. "Elas serão convocadas a depor sob juramento, e estamos estudando meios de ouvi-las nem que seja com um pedido de condução coercitiva", disse o presidente da CPI, senador Romeu Tuma (PFL/SP).

Os empresários Gilvanildo Pereira Brandão e Altair Rubens Soares, de Guarulhos, que prestariam depoimento na manhã de hoje, já foram ouvidos pela polícia, mas forneceram endereços falsos e por isso não foram encontrados para receber a intimação da Polícia Federal. O nome deles surgiu no depoimento de Jorge Meres Alves como suspeitos de receptação de carga roubada. Meres, preso em maio do ano passado, participou de quadrilhas de roubo de carga e tem colaborado com informações para a comissão.

Um dos depoimentos mais aguardados também teve que ser adiado. O empresário Ari Natalino da Silva, da distribuidora de combustíveis Petrofort, encontra-se fora do país. Natalino aparece nas investigações da CPI do Narcotráfico federal - onde também não compareceu para depor quando chamado - como suspeito de utilizar empresas para lavagem de dinheiro. Ele teve o sigilo bancário quebrado, mas esses dados só devem chegar à CPI do roubo de cargas no final do mês. "Vamos tentar intimar sua ex-esposa e sua atual mulher, que aparecem como donas de algumas empresas", disse Tuma.

Logo mais à tarde, a CPMI deve ouvir o diretor da Divisão de Crimes contra o Patrimônio (Depatri), Godofredo Bittencourt. Uma das testemunhas ouvidas pela comissão em Brasília - o preso Sálvio Villar, que participava de uma quadrilha de roubo de cargas em São Paulo - denunciou um esquema em que policiais do Depatri apreenderiam carga roubada para revendê-la.

"A CPMI quer identificar e apresentar à Justiça os receptadores, já que as cargas são roubadas por encomenda", concluiu Tuma. O relator da comissão, deputado Oscar Andrade (PFL/RO), confirma esse raciocínio. "Cerca de 25% da carga roubada são alimentos, e isso não se vende em camelô", afirmou.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito foi instalada em maio deste ano e já realizou audiências em Florianópolis e João Pessoa. Santos e Campinas também estão no roteiro da CPMI, que é formada por 11 deputados e 11 senadores. Segundo informações obtidas pela comissão, São Paulo faz parte de um esquema organizado que envolve diversos Estados no roubo e distribuição de carga. São Paulo chama a atenção porque cerca de 60% dos roubos acontecem em seu território, disse Andrade. Segundo estatísticas do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de São Paulo e Região, o roubo de cargas aumentou 16,7% entre janeiro setembro deste ano, em comparação com a média de 1999: foram 1.694 assaltos até setembro de 2000 (média mensal de 188), contra 1.930 no ano passado (média mensal de 161). As cargas mais roubadas são alimentos, combustíveis e cigarros, segundo o levantamento do sindicato.

alesp