O "pop star" do mangue

OPINIÃO - Romeu Tuma*
12/05/2003 18:31

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Bandido deve ser tratado como bandido. Transformar um deles em ídolo nacional, como vem fazendo o governo Federal com Fernandinho Beira-Mar, ao tratá-lo como o novo pop star do mangue, é abrir o país ao avanço da violência. Na verdade, a origem desse absurdo está no Rio de Janeiro, um estado que já vem desgovernado há um bom tempo. Foi principalmente o atual secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho, que, como governador, deixou o crime se organizar melhor e dominar não só a capital, mas também o estado.

Ao eleger como sucessora sua esposa Rosinha, Garotinho, para azar do povo carioca e dos brasileiros, conseguiu perpetuar sua inoperância no combate à criminalidade por mais quatro anos. No auge da crise, o secretário de Segurança vem a público declarar que a situação no Rio de Janeiro está fora de controle. Ora, se a autoridade máxima do estado em matéria de segurança pensa assim, o que dirá o cidadão comum, que está sitiado em sua casa, onde corre o risco de ser atingido pelo fogo cruzado das quadrilhas, no desigual confronto com a polícia? O carioca já não podia mais sair às ruas, quando o sol se punha, agora nem à praia pode ir mais, tamanho é o medo que se instalou. A população foi atingida diretamente em sua dignidade e assiste, boquiaberta, a pessoas de bem serem mortas a todo tempo.

Enquanto isso, o crime não combatido pelo clã Garotinho avança pelo Brasil, um país que se curva ao traficante Fernandinho Beira- Mar, uma espécie de ídolo nacional às avessas. Fortunas são gastas para levá-lo de um canto a outro do país, em busca de cadeias de segurança máxima, já que o Rio de Janeiro, de onde nunca deveria ter saído, demonstra total incompetência até para manter seus criminosos atrás das grades.

São Paulo, ainda que timidamente, é um dos únicos estados que pode oferecer, em suas poucas penitenciárias de segurança máxima, locais em que o criminoso não se sinta em casa. A situação complica-se ainda mais quando atentamos para outro detalhe: desde que Beira-Mar saiu do Rio de Janeiro e foi encaminhado a Presidente Bernardes pela primeira vez, nem o governo Federal nem o governo carioca moveu uma palha para construir qualquer penitenciária que possa receber bandidos desse calibre sem colocar a sociedade em risco. Talvez eles prefiram criar o "selo liberdade", que seria distribuído pelo crime organizado, dizendo em que locais e horários o povo poderia circular livremente e o comércio abrir suas portas.

Seria muito bom se o governo do Rio de Janeiro aprendesse rapidamente a lição de que a polícia deve ser do Estado e não do governo. Vale lembrar que o secretário de Segurança Pública, há poucos anos, quando ainda era o governador, cansou de bravatear que São Paulo era muito mais perigoso para se viver do que lá. Hoje, os fatos mostram se ele tinha razão.

Em vez de ações concretas, Garotinho prefere declarações infelizes, que servem apenas para dar aos bandidos a garantia de que mandam no estado; só ajudam a colocar a população como refém da bandidagem, vivendo à mercê de suas ordens. No mesmo passo, o governo federal age timidamente. Prefere financiar o turismo do novo pop star brasileiro, em suas andanças por este país.

*Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil,

deputado estadual pelo PPS e presidente da Comissão de Segurança Pública

da Assembléia Legislativa de São Paulo

alesp