Diversos analistas econômicos, incluindo importantes representantes da oposição, têm expressado a opinião de que os sinais de recuperação da economia brasileira indicam uma tendência sólida de crescimento econômico.Eu não me incluo entre os que assim pensam. Acho que estes sinais indicam que a economia brasileira é forte e que, apesar de todos os desacertos econômicos de um governo preocupado exclusivamente com o ajuste fiscal definido pelo FMI, ela sim é capaz de sobreviver e até crescer.No entanto esse processo tem se dado de uma forma totalmente descoordenada e sem um norte preciso, o que deixa a nossa economia sujeita às intempéries, tornando o amanhã cheio de interrogações.Não é a toa que na semana que passou, o episódio do envolvimento de Eduardo Jorge (todo poderoso secretário da presidência no primeiro mandato do FHC) com o juiz Nicolau dos Santos Neto e as obras superfaturadas do Fórum Trabalhista de São Paulo, foi suficiente para derrubar a Bolsa de Valores de São Paulo e jogar uma ducha de água fria na onda de otimismo sobre a economia.Isso denota a fraqueza de um crescimento econômico que, na verdade, não se dá em cima de bases auto-sustentadas, nem é fruto de um planejamento de longo prazo, capaz de estabelecer os parâmetros e definir os contornos da economia brasileira para daqui a 5, 10, 15 anos. É como se estivéssemos num vôo sem radar e sem rota definida: enquanto o céu é de brigadeiro, tudo vai bem e parece que os objetivos vão sendo alcançados, mas, basta o surgimento das primeiras nuvens negras e de turbulências para que a tripulação e os passageiros sejam acometidos pela incerteza.Mais uma vez insisto que é preciso, independentemente da turbulência da última semana (que não promete ser muito longa, por ser igualmente frágil), que o país se volte para a necessidade de reformas estruturais que indiquem o caminho de um desenvolvimento sustentável.A mais urgente delas é a reforma tributária. Obstruída pelo próprio governo, que não quer correr o risco de diminuir suas receitas e comprometer metas com o FMI, a reforma tributária é a condição essencial para que possamos recolocar o país na trilha do fortalecimento do setor produtivo.O sistema tributário atual cada vez mais aumenta a incidência tributária e diminui a base de arrecadação, estimulando a sonegação, penalizando as empresas que efetivamente recolhem impostos e, sobretudo, achatando os rendimentos dos assalariados que ainda sobrevivem no mercado formal. A verdade é que o nosso sistema tributário é caótico, injusto e desconectado com políticas públicas de indução de desenvolvimento. Além das questões já apontadas, temos a distribuição desigual de renda entre os Estados, cuja desproporcionalidade gera um enorme desequilíbrio e acirra disputas antropofágicas apelidadas de Guerra Fiscal.Essa situação precisa mudar. A base da arrecadação tributária precisa ser ampliada para aumentar a arrecadação com menor incidência de impostos. Em suma, é preciso que mais gente pague menos e não, como ocorre hoje, cada vez menos gente pague mais impostos. Ao mesmo tempo, é preciso uma política global de desenvolvimento que seja capaz de equilibrar a distribuição de receitas entre os Estados, garantindo a diminuição das desigualdades regionais de forma monitorada e pactuada entre as diversas unidades da federação.Espero que a turbulência da última semana alerte o governo FHC e os agentes econômicos e políticos da nossa sociedade para as fragilidades da nossa economia. Quem sabe possamos então fazer as reformas estruturais necessárias, começando pela tributária. Do contrário estaremos fadados a uma história de altos e baixos, alternando momentos de depressão com outros de extrema euforia.