Responsabilidades do lar devem ser compartilhadas

Entrevista: Deputada Ana do Carmo
05/03/2004 18:36

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DA REDAÇÃO

Nascida em Guraciaba, Minas Gerais, em uma família de trabalhadores rurais, Ana do Carmo sentiu desde criança as agruras da mulher trabalhadora. Adolescente, mudou-se para São Bernardo do Campo, buscando condições melhores de vida. Quando era operária, iniciou sua militância na luta sindical, durante as greves de 1979 e 1980, e foi nesse período que conheceu vários companheiros, que já naquela época lutavam por melhores condições de vida para a população. No começo dos anos 80, trabalhou para a criação do Partido dos Trabalhadores, ao qual é filiada até hoje.

Em 1982, foi candidata a vereadora em São Bernardo do Campo, perdendo aquela eleição por apenas 32 votos. Mas isso não a abateu: com muito trabalho e dedicação, nas eleições seguintes foi a vereadora mais votada do PT, e nos seus quatro mandatos como vereadora em São Bernardo do Campo, foi a única mulher na Câmara. Em 2002, eleita deputada estadual, obteve a maior votação de São Bernardo do Campo para o cargo.

Sua atuação política sempre foi voltada para o trabalho de conscientização do povo pobre e discriminado do País.

Para Ana, somente com muita luta e determinação se pode superar as contradições e preconceitos da nossa sociedade. Ela sabe das dificuldades que as mulheres encontram para participar ativamente da vida pública, de deixar a segurança do lar, do cuidado com a família, para se lançar e expor-se numa luta maior. "Gostaria de dizer às mulheres que não esmoreçam, que continuem lutando, se não por elas, por seus filhos, aqueles que jamais abandonamos."

Diário da Assembléia: Qual sua perspectiva em relação à formação de um grupo de mulheres deputadas? E quanto à Semana da Mulher na Assembléia Legislativa?

Deputada Ana do Carmo: Sempre ressaltei nas minhas andanças a necessidade da organização das mulheres, seja em qualquer setor da sociedade. Portanto, fico feliz quando vejo que aqui na Assembléia Legislativa nós deputadas, eleitas para representar o povo e principalmente as mulheres, podemos formar um grupo coeso que apóia e articula políticas públicas, e ajuda na organização das lutas das mulheres em todos os segmentos da sociedade

D.A.: Em sua opinião, o que pode ser feito para aumentar a representação feminina nas casas legislativas?

A.C.: Acredito que o sistema de cotas, regulamentado em nossa legislação, tem contribuído para a ampliação da participação política partidária da mulher, prática adotada pelo Partido dos Trabalhadores desde os primórdios da sua criação. Entretanto, não é o bastante: temos que trabalhar, e muito, para a conscientização política da mulher, que inclui mudanças de paradigmas e referências, especialmente aqueles que são produto de preconceitos e discriminação, utilizando todos os meios disponíveis, sejam recursos educacionais, de mídia, movimentos sociais e político partidário. A implementação da participação política da mulher esbarra nas responsabilidades da mulher com os serviços do lar e no cuidado dos filhos. Seria fundamental que essas responsabilidades fossem compartilhadas de forma efetiva na família, e o Estado assegurasse políticas públicas de qualidade, com acesso real de todos, criando-se mais oportunidades para a dedicação da mulher ao trabalho de construção da cidadania.

D.A.: Qual o grau de avanço que o país vem obtendo nos direitos femininos em relação a outros países? Falta muito a ser feito?

A.C.: O Brasil nos últimos anos tem sido cenário de importantíssimas conquistas nos direitos das mulheres. Com coragem e firmeza de propósitos, homens e mulheres vêm renovando os parâmetros legais e institucionais em nosso país. Cabe ressaltar a Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002, que tratam dos direitos e garantias fundamentais, direitos sociais e direitos civis, que estabelecem a igualdade e liberdade para que mulheres e homens possam viver plenamente seus sonhos e aspirações. Entretanto, esta é uma realidade institucional, pois a realidade vivida é sombria e absolutamente desigual. Nesse sentido o nosso país ainda está muito aquém de outros países que desfrutam de maior progresso social. Muito temos que avançar e conquistar para a plenitude de uma nação democrática em que as pessoas estejam em pleno gozo da sua cidadania.

D.A.: A condição feminina está ligada à condição sócio-econômica? Em que medida?

A.C.: As diferenças históricas em relação a condição sócio-econômica de homens e mulheres em nosso Brasil se perpetuam, reproduzindo os males da exclusão e da desigualdade, o que afeta ainda mais os discriminados - o que inclui a nós, mulheres. Percebo isto na convivência com as mulheres sofridas e amadurecidas no aprendizado da vida, pois muitas mulheres excluídas aprenderam a responder à realidade da vida com coragem, ousadia e sabedoria, assumindo suas idéias, anseios e perspectivas.

alesp