AVULSOS E INFIÉIS - OPINIÃO

Milton Flávio*
04/01/2002 18:12

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Não conheço pessoalmente o vereador paulistano Carlos Gianasi (PT), nem tenho procuração para defendê-lo. É bem possível que discorde dele em uma série de temas, a começar pela educação, setor em que atua, como dirigente sindical, há muitos anos. Isso, no entanto, não me impede de louvar sua coerência.

Não conheço igualmente o vereador Edivaldo Estima, do PPB, partido que, a exemplo do PSDB, embora por razões distintas, também faz oposição ao governo de Marta Suplicy na Câmara Municipal de São Paulo. Tanto quanto o parlamentar petista, o vereador do PPB não pode ser acusado de falta de coerência.

Gianasi e Estima, como se recorda, correm o risco de serem punidos por seus respectivos partidos, porque votaram contra a orientação da cúpula na matéria que reduziu os gastos com a educação e jogou na conta do ensino fundamental despesas com inativos, transporte escolar, merenda, uniforme, entre várias outras.

Ambos foram acusados pelos seus pares - mais Gianasi que Estima, é verdade - de serem "infiéis", parlamentares "avulsos" que desrespeitam a orientação partidária. A discussão, no entanto, está mal colocada.

Gianasi e o PT criticaram duramente as administrações Paulo Maluf (PPB) e Celso Pitta (ex-PPB) porque não investiam na Educação os 30% previstos na Lei Orgânica do Município. Além disso, ambos jogavam na conta do ensino despesas indevidas. Pretendiam até cassar os dois ex-prefeitos por conta dessa prática. Nesse caso, sempre tiveram o apoio do PSDB.

Uma vez no governo, porém, o PT começou a achar que era muita coisa destinar 30% da receita para a manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental. Para que pudesse implantar seus "projetos sociais", fechou questão a favor do projeto do Executivo, buscou novos aliados (alguns inesperados) e passou o rolo compressor sobre a oposição. Gianasi votou contra a proposta de seu partido. Até porque, na prática, ela é a negação de tudo o que fora dito e prometido. Agora, corre o risco de ser expulso.

A proposta de Marta Suplicy só foi aprovada em plenário porque contou com o inestimável voto de Edivaldo Estima. A se julgar pelas "realizações" de Maluf e Pitta, a prioridade do PPB paulistano nunca foi a educação, mas, sim, obras, em especial as mais vistosas e muito caras. Logo, era de se esperar que o PPB apoiasse o PT nessa sua empreitada de reduzir as verbas para o ensino. Aconteceu justamente o contrário. Tocado por um forte sentimento social, o PPB fechou questão contra a redução de verbas para o ensino.

Estima, fiel ao comportamento de seu partido, quando no governo, votou a favor da proposta petista e transformou-se, a exemplo do colega Gianasi, num parlamentar "avulso", num vereador infiel.

Defendo a fidelidade partidária, por razões óbvias. Mas, nesse caso, cabe uma pergunta: quem são, de fato, os infiéis - Gianasi e Estima, ou o PT e o PPB?

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e da União dos Parlamentares do Mercosul (UPM)

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