A ESPERANÇA VEM DO INTERIOR - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
21/12/2000 17:04

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São mais de cem anos de história que vão para o arquivo e hão de ficar vivos na memória dos povos. Vai-se o século XX das grandes transformações.

Século onde os homens revelaram sua genialidade nas artes plásticas, na música e na literatura; desfraldaram bandeiras da igualdade, da paz, da solidariedade e da justiça, derrubando tiranos e edificando democracias; encurtaram fronteiras na ciência, aproximando-se da cura de doenças cardíacas e do câncer, aumentando a expectativa de vida no planeta.

Século do automóvel, do avião, do foguete que foi à lua e do transplante de coração. Século de duas grandes guerras, do surgir e apagar de utopias; das grandes curas e das intensas epidemias. Século das possibilidades, das oportunidades e da velocidade da comunicação. Século do despertar da consciência ambiental, em meio ao ruído poluidor de um desenvolvimento enlouquecido. Século do conforto, da riqueza e da tecnologia, a contrastar na mesma esquina com a penúria, a miséria e a ignorância. Século que antecipou o futuro, nas viagens espaciais, no decifrar dos genomas e nas infinitas portas abertas pela Internet, mas que ressuscitou o passado na infância abandonada nas ruas, dizimada por doenças e pela desnutrição. Século da fartura e da miséria, intersecção do que se pensou ultrapassado e do nunca imaginado.

Jamais haveremos de esquecer do século XX. Nele a humanidade se transformou. Cabe uma reflexão, se foi para melhor ou não. A resposta cabe a cada um e provavelmente não será afirmativa ou negativa pois, multifacetada e plugada, a vida no planeta não permite uma conceituação única, mas sem dúvida nos remete à constatação de que tão grande foi o salto em relação ao século anterior que aumentou infinitamente o fosso entre os que se aproximaram do século XXI e os que ainda vivem numa realidade próxima do século XIX.

É assim no mundo todo e, em particular, no Brasil. O país que entrou nesse século e o que adentrará o próximo são paradoxalmente iguais e diferentes. Iguais porque persistem desigualdades desumanas. Diferentes porque hoje somos um país, que ainda tem no campo um grande potencial, mas que se urbanizou e vivenciou um crescimento fantástico em todos as áreas.

Dentre todas as transformações, talvez a mais digna de grandes comemorações e de zelo, é a conquista obtida, das liberdades democráticas. Hoje podemos dizer que vivemos num país ainda injusto, porém livre e democrático. Uma democracia representativa que haverá de ser consolidada no próximo milênio e transformada numa democracia participativa, na qual teremos um engajamento maior da sociedade e, consequentemente, maiores chances de demovermos as injustiças e de aterrarmos o fosso que separa ricos e pobres.

O maior desafio da humanidade e dos brasileiros no século que se aproxima é apagar os vestígios indesejáveis da ignorância, injustiça e miséria. Para isso é preciso uma viagem introspectiva para que a humanidade garimpe dentro de si e reencontre a solidariedade e a fé, matérias-primas indispensáveis para a eternização da esperança, sem a qual nada faz sentido.

*ARNALDO JARDIM é engenheiro civil,

deputado estadual. Foi

Secretário da Habitação (1993). É o

relator geral do Fórum SP Século XXI

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