DAVOS OU PORTO ALEGRE? - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
05/02/2001 15:28

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A economia globalizada, seus caminhos ou descaminhos, está sendo tema do Fórum Econômico de Davos, na Suíça e do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, capital do Estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

Em Davos, ocorre o evento tradicional, onde os principais protagonistas dessa economia de inserção global estão rediscutindo rumos sob seu ponto de vista e dedicando-se a constatar os buracos no casco da nau econômica mundial, cuja face visível é a grande diferença de tratamento dada às nações pobres e ricas.

Em Porto Alegre, ocorre o evento alternativo, onde se reúnem aqueles que não querem ver apenas minimizadas as contradições da globalização, mas resistem dogmaticamente a sua continuidade.

Mas tanto Davos como Porto Alegre abrigam contradições internas e não é loucura dizer que um fórum comporta o outro.

O ativista agrário francês José Bové, a despeito de suas jogadas para a platéia, ao invadir lanchonetes ou laboratório de sementes transgênicas de multinacional, tem sua causa ligada à defesa de uma política agrícola protecionista da União Européia e que tem impedido que nações em desenvolvimento, como o Brasil, possam equilibrar sua balança de pagamentos. Portanto, apesar de uma roupagem que o aproxima das vítimas da globalização, Bové é um aliado daqueles que publicamente condena.

Já o presidente Fernando Henrique, que num primeiro momento fez críticas demagógicas e despolitizadas à reunião de Porto Alegre, é chefe de um governo que se faz representar em Davos e que deveria estar comemorando a reunião na capital gaúcha. Afinal, o simples fato de ela existir já auxilia a posição brasileira no jogo de braço contra os poderosos da economia mundial. De certo forma, parece que ele já está reconhecendo a importância da reunião de Porto Alegre ao afirmar que é preciso tratar também das questões sociais e não apenas das econômicas.

Davos e Porto Alegre nada decidirão, mas algumas verdades são incontestáveis, queiram ou não os participantes de ambas as reuniões. Aos reunidos no Brasil, é preciso dizer que as visões nacionalistas retrógradas e a aversão ao desenvolvimento tecnológico são inúteis. Aos que estão na Suíça, é preciso alertar que as desigualdades sociais e regionais no planeta têm que ser atacadas já. Sem isso não há possibilidade de uma economia mundial estável.

Tomos somos tentados a enxergar esses dois fóruns com a mesma ótica de um fanático torcedor: uns à direita, outros à esquerda. Nada mais infantil e ultrapassado numa sociedade moderna sem fronteiras. Nela, a velocidade de informação e os novos processos produtivos estão a exigir dos governos e organizações uma postura pró-ativa para solucionar problemas graves como o da miséria e o da ausência de saúde e educação.

Problemas que não se solucionam quebrando McDonalds e destruindo experimentos científicos, nem mantendo as velhas fórmulas monetaristas preconizadas pelo FMI.

Arnaldo Jardim é engenheiro civil, ex-secretário da Habitação, deputado estadual e relator geral do Fórum SP - Século XXI.

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