A Comissão de Serviços e Obras Públicas, em reunião informal nesta quarta feira, 9/3, promoveu o seminário "Mapeamento dos investimentos em infra-estrutura: a conta da inclusão social", no qual foi lançado o 5º volume do Atlas da Exclusão Social " "Agenda não liberal da Inclusão Social no Brasil", editado pela Cortez Editora. Participaram do seminário os deputados Simão Pedro , Mario Reali e Sebastião Arcanjo, todos do PT, e os professores da Unicamp Mauro Pochmann e Denis Gimenez.Escrito por pesquisadores de universidades paulistas (USP, Unicamp e PUC), o livro faz "uma reflexão sobre a possibilidade de se construir uma nação solidária e os obstáculos ao desenvolvimento econômico, mostrando quanto custaria ao país promover uma agenda de inclusão social que trouxesse resultados num prazo de 16 anos", conforme explica o organizador do projeto, Marcio Pochmann.O presidente da comissão, deputado Simão Pedro, acredita que a "proposta neoliberal de que o Estado tem que atuar apenas administrando, se eximindo da responsabilidade na área social é errônea e prejudica toda a sociedade". O convite aos produtores do livro foi feito exatamente pelo fato da agenda ir "contra a corrente neoliberal".Soluções e investimentosMarcio Pochmann afirmou que no ano 2020 o Brasil corre o risco de estar em situação ainda pior no campo social do que a vivida hoje, e foi procurando soluções e investimentos para que isso não aconteça que o livro foi elaborado.O projeto foi baseado em países com PIB próximos ao do Brasil, para que pudessem ser aplicados também aqui. Foram utilizados diferentes indicadores como escolaridade, analfabetismo, desemprego, desigualdade de renda, cultura e inclusão digital."O Brasil tem ilhas de inclusão cercadas por um mar de exclusão". Foi desse modo que Marcio Pochmann iniciou a explicação sobre as possibilidades estudadas na publicação. A primeira (avançada) fará com que o Brasil esteja em 2020 com o mesmo nível de pobreza que a França possui hoje, a segunda (intermediária), fará com que esse nível seja próximo aos atuais números americanos. Para atingir o padrão intermediário de inclusão, o país teria que investir cerca de 14,5% de seu PIB, já para o nível avançado seria preciso 27,6%.Padrão decenteA agenda não liberal traz indicadores de investimentos necessários, como a quantidade de dinheiro que seria gasto se o Brasil quisesse, em 2020, ter o mesmo número de alunos que o Chile possui hoje matriculados no Ensino Médio, aproximadamente 85% dos jovens entre 15 e 17 anos. Os resultados mostram que seria preciso abrir mais 47 mil salas de aula, 140 mil turmas e investir algo em torno de 4 milhões e 900 mil reais.Um Ensino Superior semelhante ao dos EUA, com participação de mais de 50% dos jovens, custaria 5,7 milhões de reais além da contratação de 467 mil novos professores, 54 mil salas de aula e 162 mil novas turmas.Para atingir um "padrão descente" de cultura, é preciso que 120 mil bibliotecas sejam construídas, na área da saúde, chegar em um nível intermediário custaria 709,5 bilhões de reais.O livro mostra que a dívida social do país é cerca de três vezes maior que a dívida pública e que a região Sul é a que está em melhor situação em termos habitacionais.São Paulo possui a maior demanda de recursos em qualquer indicador, pois apesar de ser o estado mais rico do país é o que tem a maior dívida social com seus habitantes. Só para amenizar a pobreza estadual o investimento seria de 192 milhões.Políticas públicasTambém é preciso organizar o setor de políticas públicas. Pochmann afirmou que as políticas voltadas para a área social são extremamente desorganizadas e desenvolvem uma divisão setorial: "Existem os pobres da saúde, pobres da educação. Ninguém sabe ao certo o tamanho da dívida social, por isso não há metas. Tentamos identificar exatamente o tamanho dessa dívida".O professor Denis Gimenez também acredita que é necessário dar sentido às políticas de combate à pobreza em curso no país. "É preciso focalizar a política para os pobres.Os dados mostram grandes desafios se quisermos enfrentar as questões sociais no Brasil. Muitas pessoas me perguntam: professor, só o crescimento não basta para a inclusão social não é? Mas não é só o crescimento. Ele sozinho realmente não basta, mas sem ele não chegaremos em lugar algum no campo social."