DIVERGÊNCIAS PREJUDICAM AS POLÍCIAS - OPINIÃO

Afanasio Jazadji *
15/01/2001 18:08

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Um encontro entre integrantes da cúpula das polícias Militar e Civil do Estado de São Paulo evidenciou que um dos grandes problemas para o combate à criminalidade é a divergência entre esses dois setores da área da Segurança Pública. Nessa reunião sigilosa, realizada no fim do ano 2000, delegados e coronéis fizeram uma análise das questões que afetam a repressão ao crime e admitiram que cresceu bastante o choque entre as Polícias Militar e Civil não apenas na Capital como também no Interior e no Litoral.

Os comandos reconheceram ser difícil superar divergências, mas fizeram um pacto: o de não acionar a imprensa quando houver conflito entre as corporações. Neste caso, a mídia só deve ser informada de ocorrências de sucesso das Polícias. Esse encontro teve como local a sede do Comando do Policiamento da Capital, no Bairro da Luz, contando com a presença de nove coronéis da PM responsáveis pelos Comandos de Policiamento de Área Metropolitanos, assim como outros PMs, oito delegados seccionais e o diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital, delegado Gérson Carvalho. O delegado Gérson e o chefe do Comando de Policiamento da Capital, coronel Waldir dos Santos, presidiram a reunião.

As acusações são mútuas. Um dos delegados chegou a afirmar que policiais militares passam lixa nas placas de seus veículos particulares para não serem detectados por radares fotográficos do trânsito e que, quando policiais civis fazem o mesmo, acabam sendo autuados pelos colegas da Polícia Militar. Outra queixa dos delegados: eles querem ser chamados de "doutores" pelos PMs e não apenas de "bacharéis". Por sua vez, um dos coronéis da PM disse que, quando são concedidos mandados de busca e apreensão para a Polícia Militar atuar, alguns delegados mostram constrangimento, como se não estivessem na mesma luta contra a criminalidade.

Esse encontro de delegados e coronéis teve até ata, além de planos de serem realizadas outras reuniões para análise de providências a serem tomadas. No entanto, o que muitos PMs e delegados admitem, porém sem declarar abertamente e sem constar em ata, é o fato de o comando da Secretaria da Segurança Pública ser exercido por membros do Ministério Público, que não têm prática de contato com os sistemas de repressão ao crime: o atual secretário, Marco Vinício Petrelluzzi, foi promotor de Justiça, a exemplo de seu principal assessor, o secretário-adjunto Mário Papaterra Limongi. É normal que o governador Mário Covas queira ter em seu secretariado pessoas de sua inteira confiança: o secretário Petrelluzzi atende a esse requisito, como antigo membro do PSDB, alinhado com a filosofia tucana de direitos humanos. O problema é que determinadas atividades exigem um conhecimento não apenas teórico, mas também prático. Não basta o secretário Petrelluzzi afirmar que visitou a sede da Polícia de Nova York: para delegados e PMs, ele será sempre visto como um jurista teórico, jamais um líder. Agora que o governo Covas está completando seis anos, está mais do que na hora de São Paulo acabar com esse verdadeiro "buraco negro" que é a falta de comando na Segurança Pública. As polícias têm de ser salvas.

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