O MUNDO NÃO SERÁ O MESMO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
13/09/2001 12:14

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Os atentados terroristas às instituições americanas talvez caracterizem aquilo que um analista denominou "o primeiro dia do século XXI". Embora isso possa até parecer eloqüente e exagerado, é indicativo do que se sucederá ao fatídico dia 11 de setembro de 2001, quando terroristas suicidas seqüestraram grandes aviões e os arremessaram contra as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono, símbolos do poder econômico e militar dos Estados Unidos da América.

Essa tragédia que se abateu sobre o povo americano atinge o coração de toda a humanidade e estará registrada na história como um marco de transformações profundas no planeta. A partir desse fato será erigida uma nova ordem mundial, cujos rumos estarão condicionados à identificação dos responsáveis pelo atentado e ao grau de retaliação a ser desencadeado pelo governo americano, num processo que levará a uma nova geopolítica internacional.

No entanto, é possível apontar para o aprofundamento, já em curso, da desaceleração da economia mundial: iminência da recessão econômica nos Estados Unidos; contaminação da gestão de negócios por um estado psicológico dominado pelo pessimismo; restrição no fluxo e mudança na característica dos investimentos, com predominância de ativos convencionais e mais sólidos (ouro e dólar) em detrimento de novas alternativas econômicas.

Afora o cenário de dificuldades das exportações, é de se esperar a postergação do processo de formação da Área de Livre Comércio nas Américas (Alca), dada a tendência natural de os EUA se voltarem para dentro, com a prevalência de um tom mais nacionalista e protecionista, o que pressupõe barreiras adicionais em relação à integração internacional. Além disso, deveremos ter um recrudescimento de movimentos de afirmação nacional na Europa, com o conseqüente fortalecimento do nacionalismo xenófobo e o aprofundamento do distanciamento Norte-Sul, num movimento rumo ao estabelecimento de certo "cordão sanitário" em torno dos países desenvolvidos.

Esse cenário aparentemente apocalíptico, no entanto, pode reservar espaços para grandes esperanças. Afinal, nas grandes adversidades e tragédias é que surgem transformações importantes no modo de agir e pensar da humanidade. Deste momento de fundo do poço poderão vir sinais para a construção de uma ordem mundial mais solidária e menos desigual.

Mesmo que, num primeiro instante, a tendência seja de acirramento das tensões, creio que a ação objetiva dos povos poderá superar este momento de dor e definir novos contornos para o mundo, com o fortalecimento de valores tão caros e tão esquecidos como a solidariedade, a igualdade, a fraternidade e a justiça social. Está aberta uma oportunidade histórica para redirecionarmos o destino da humanidade, e nessa tarefa devemos contar com o formidável desenvolvimento científico-tecnológico para, por exemplo, produzir alimentos suficientes para erradicar a fome no mundo.

Não há dúvidas de que o Brasil, por sua vez, sofrerá também os efeitos da desaceleração econômica, o que deverá influenciar o quadro sucessório do próximo ano. Ao mesmo tempo, com nossa relativa estabilidade política e imunização a conflitos raciais, religiosos e ideológicos, aliadas a nossas dimensões continentais e sólido e promissor mercado interno, temos tudo para ver concretizada a profecia que nos coloca como grande potência econômica mundial. Precisamos trabalhar para que isso de fato ocorra e sejamos uma potência que dissemine no mundo a fantástica experiência da confraternização deste país, que é um caldeirão de raças, de diversidade harmônica e de pluralidade religiosa que se constitui num testemunho vivo de convivência pacífica e harmoniosa, sempre praticada internamente e que devemos divulgar ao mundo.

*Arnaldo Jardim é engenheiro civil, deputado estadual e presidente estadual do PPS. Foi secretário da Habitação (1993) e relator-geral do Fórum São Paulo Século XXI

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