O ódio venceu a esperança

OPINIÃO - Ary Fossen *
13/11/2003 17:22

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As guerras e os conflitos sempre serviram aos ditadores. O ódio é um motor poderoso capaz de aglutinar a vontade do povo e desviar a atenção para a falta de pão ou liberdade. Um governo que não tem consistência em termos de projetos e ações precisa buscar inimigos para unir o país na luta contra eles através das emoções. A política, ao contrário, busca reunir forças em torno de idéias. A razão serve como denominador comum capaz de permitir a idéias divergentes encontrar pontos consensuais e a construção de um projeto comum.

Assim, existe uma relação direta entre a falta de conteúdo, o apelo emocional e o fomento do ódio, por um lado, e o conteúdo, a argumentação racional e o estabelecimento do diálogo do outro. Se a guerra é a continuação da política por outros meios, isto se deve à derrota da razão, à incapacidade de dialogar ou vencer o impasse.

O governo do PT tem usado com freqüência o estímulo ao conflito e ao ódio. Parlamentares protestam contra o corte de verbas da saúde, então são taxados como agentes do Lobby dos hospitais; deputados reclamam do aumento da carga tributária e são taxados então de defender o cofre dos ricos; entidades reclamam da falta de resultados concretos do Fome Zero e o governo diz que quem reclama não tem preocupação social ou é apressado; um ex-presidente da república faz críticas suaves à falta de criatividade do governo e é mandado para casa para cuidar dos netos; critica-se as viagens da ministra e se é taxado de preconceituoso.

Os exemplos de casos no qual o PT tenta semear o ódio e dividir o país são incontáveis. Em todos eles se tenta excluir o campo adversário da argumentação com a desculpa de que ele representa "as elites", "os ricos" ou alguma coisa do tipo. O PT se coloca acima do bem e do mal, inatacável porque defende a "causa" dos mais pobres.

É tão falsa a afirmação de que o PT defende os pobres quanto a de que seus adversários defendam "os ricos". São falácias aparetandas àquela que tenta legitimar a cruel e desumana ditadura de Fidel Castro para se proteger dos Estados Unidos, que apontava cada defensor da democracia na Alemanha Nazista como um agente dos judeus, daquela que justifica a invasão do Iraque porque os iraquianos precisam ser trazidos à marra para a democracia tanto quanto daquela que estimula os terroristas a explodir os ocidentais.

Mesmo quando se tem boas intenções, a libertação destas forças do ódio é perigosa. Que o diga o cadafalso da guilhotina na Revolução Francesa, as estepes geladas da Sibéria, as trincheiras cheias de corpos em tantas guerras. Tentar construir algo baseado no ódio é como semear joio para colher trigo.

O ódio é o fim inevitável de todo governo construído com as emoções em vez da política. Sempre, ensina a história, esse poder foge do controle de quem liberta estas forças porque os apelos emocionais, como as drogas, exigem doses cada vez maiores para manter os dependentes. A escalada de violência no campo é apenas uma amostra do tipo de cenário que se desenha no país.

A grande vítima do governo Lula tem sido a classe média. Os mais ricos, ao contrário do que diz o PT, tem sido beneficiados pelos juros altos, pela adulação aos especuladores financeiros - não é à toa que o governo federal propõe a diminuição do imposto sobre aviões e barcos enquanto aumenta o imposto da cesta básica.Mas os fatos importam pouco a quem utiliza o ódio como arma eleitoral. É a classe média que está suportando a maior parte do aumento da carga tributária, mas é ela que vem sendo tachada como a "elite" que impede as mudanças.

Se o PT tivesse argumentos poderia justificar suas posições; como não tem, escolheu a classe média para ser o "judeu" da vez e expiar a falta de conteúdo do governo. O país teve a esperança de que o "Lulinha paz e amor" da campanha eleitoral pudesse ser o presidente de todos os brasileiros, ele preferiu dividir o país e libertar estas forças do ódio. Sobra apenas a esperança de perceberem os rumos errados que foram tomados.

*Ary Fossen (PSDB) é 2o. Vice-Presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo

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