OPINIÃO: A Igreja e a água: tempo de engajamento

Padre Afonso Lobato*
11/03/2004 18:24

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Quaresma, tempo de conversão e reflexão, exercer a caridade, solidariedade. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lançou a Campanha da Fraternidade, como faz todos os anos após o Carnaval. Para 2004 o tema é "Fraternidade e Água" e o lema "Água: Fonte de Vida". Desde a década de 60, a CNBB apresenta desafios de extrema importância para a Igreja e toda a sociedade. Neste ano, nada mais apropriado do que discutir a necessidade da água, este bem universal e vital.

A água tem a capacidade de promover os ideais da quaresma e nos irmanar em torno de uma causa tão humanitária. Atualmente, a água começa a ser vista como um bem econômico. Dada à sua escassez, principalmente daquela apropriada ao consumo humano, a água está cada vez mais suscitando a ganância de alguns grupos. Aí está o perigo para toda a humanidade.

Quando governantes falam em privatizar serviços de saneamento, indiretamente estão falando da privatização da água. Considero inadmissível que alguns controlem a água, fonte da vida, a qual todos devem ter acesso.

O texto base da Campanha da Fraternidade fala num ponto, sobre a transformação da água em mercadoria, o que representaria o triunfo da lógica do mercado transformando o líquido em objeto de lucro das grandes empresas capitalistas. É claro que atualmente é preciso dar um valor econômico para a água, inclusive para que as pessoas usem com racionalidade, sem desperdício. Porém, a cobrança pelo uso da água não poderá privar ninguém de sua função vital, que é matar a sede, e não, como alguns já insinuam, usá-la apenas como um diluente de esgoto. Se não for assim, a água deixará de ser direito de todos os seres vivos, criando-se um impasse ético e a tragédia dos excluídos da água.

Ideal mesmo, é o pagamento de um alto preço pela água poluída pelas indústrias e empresas de saneamento, para que se torne economicamente compensador evitar a poluição.

É preciso ver a água como um bem muito mais amplo, que está intrinsicamente ligado à manutenção da vida no planeta e à história da humanidade. Uma forma de garantirmos que continue sendo um bem universal, é fazendo a nossa parte. Por menor que seja, estaremos ajudando a sociedade a se conscientizar e se mobilizar em torno de assunto tão urgente. Por isso, participar ativamente dos trabalhos da Campanha da Fraternidade, divulgando e levando informação para envolver toda a comunidade, já é um excelente começo.

*Padre Afonso Lobato é deputado estadual pelo PV

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