Violência cresce. Aonde vamos parar?

Opinião
04/11/2009 18:09

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Foram três tiros pelas costas e José tombou. Não houve tempo para prestar socorro. Vigia em uma empresa, pai de família, 44 anos, não portava arma e, diante da ameaça, teve o instinto de correr. A vida perdida, no último final de semana, na quente madrugada santista, lamentavelmente reforça a estatística que aponta o crescimento da violência no Estado de São Paulo.

Pelo terceiro trimestre seguido neste ano, a violência registrou aumento, segundo dados oficiais da própria Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. O órgão não se manifestou sobre os dados.

Em maio, quando os números referentes ao primeiro trimestre do ano já apontavam para o aumento da criminalidade no Estado, o governo tucano atribuiu o problema à crise econômica. Agora que a crise passou, quem será responsabilizado pela epidemia de violência e pelos crimes que aterrorizam a população paulista?

Houve o aumento de praticamente todos os tipos de crime. A comparação do terceiro trimestre de 2008 com o mesmo período deste ano revela que subiram os casos de seqüestro, homicídio doloso (intencional), estupro, roubo, furto, roubo e furto de veículos e também o roubo de carros e de bancos..

Nos casos de homicídio, São Paulo atingiu a taxa anual de 11 casos por grupo de 100 mil habitantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir deste índice a violência é considerada como sendo uma epidemia.

A falta de controle da violência já chegou até à área nobre da capital e teve o secretariado do governador como alvo. Um dos secretários de Serra, ao ter a residência assaltada, declarou que mantém "uma reserva de dinheiro guardada em casa para ladrão".

Com 64.399 roubos registrados, o terceiro trimestre deste ano entrou para a história como o período em que mais crimes desse tipo ocorreram em todo o Estado. O registro negativo anterior (63.729) foi computado no segundo trimestre deste ano. Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, os roubos subiram, agora, 18%.

Enquanto os índices de criminalidade avançam, Serra corta dinheiro da segurança. Em 2008, R$ 580 milhões deixaram de ser investidos e, este ano, as coisas caminham no mesmo ritmo. O corte de recursos atingiu também o policiamento comunitário: de R$ 650 mil, foram aplicados apenas R$ 105 mil.

A realidade é que os índices criminais tiveram uma escalada absurda nas sucessivas gestões do PSDB em São Paulo. O lado mais conhecido dessa situação de abandono e violência foi o aumento de casos de seqüestros, que antes atingiam só os ricos e, hoje, têm vítimas em quase todas as classes sociais. O aumento do número de casos foi de 136%, na comparação entre o terceiro trimestre de 2008 e o mesmo período deste ano.

Outro registro a ser feito: o lamentável aumento do consumo de drogas ilícitas entre a juventude paulista.

A crise na Segurança Pública manifesta-se em fatores relativos não somente à organização e estrutura policial, como também está relacionada à falta de equipamentos e à existência de uma cultura operacional ultrapassada e fora dos padrões democráticos.

As instituições policiais do Estado sofrem com a falta de verbas, equipamentos e pessoal. Pessoal, diga-se, muito mal remunerado.

E mais: a criminalidade e a violência não podem ser combatidas apenas pela polícia, exigindo a elaboração de um conjunto de políticas públicas, implementadas em conjunto por todos os órgãos do governo, objetivando a inclusão social e a paz.

*Maria Lúcia Prandi, educadora, deputada estadual pelo PT e cientista política.

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