DOIS EM UMA - OPINIÃO

Milton Flávio*
18/09/2001 12:08

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Por uma questão de honestidade, ninguém em sã consciência pode cobrar da prefeita Marta Suplicy grandes realizações em apenas oito meses de governo. Seria ridículo. Não há como negar a herança nefasta que lhe foi deixada pelos seus antecessores. O que não se poderia esperar - ou talvez se pudesse, sim - é que sua administração, em tão pouco tempo, se caracterizasse pela incompetência e arrogância.

Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo revela que, de 1º de janeiro a 30 de agosto, a administração municipal fechou nada menos que cento e oito contratos de emergência, ou seja, sem concorrência pública. Juntos, de acordo com o jornal, eles somam R$ 270 milhões. Entre as empresas contratadas, como já se sabe, pelo menos uma pertence a um ex-militante do Partido dos Trabalhadores e outras três doaram recursos vultosos para a campanha de Marta Suplicy à prefeitura.

Claro que o PT - ao menos na visão do secretário de governo, Rui Falcão -

está fazendo o melhor para a cidade, impedindo que serviços, obras e programas sociais sofram solução de continuidade. Os preços, segundo ele, foram reduzidos em relação aos praticados na gestão anterior. O que, a se julgar pelo que foram as duas administrações anteriores, deve ser pura verdade. Deve ser verdade também que boa parte dos contratos de emergência teria que ser feita por conta do descalabro, como faz questão de ressaltar o secretário da gestão anterior.

Fica difícil de aceitar, no entanto, que até a contratação de meia dúzia de peruas para fazer um levantamento qualquer - contratação essa feita em agosto, após oito meses de gestão - tivesse que ser feita em caráter de emergência. Se isso não for incompetência, fica difícil explicar o que é. O interessante é que o secretário não admite ser questionado. É um tipo curioso de jornalista. Só responde o que lhe convém. Quando perguntado sobre algo que não lhe agrada, encerra a entrevista e ponto final. Não se sente obrigado a dar maiores explicações. Talvez porque julgue que suas boas intenções devam pairar acima da lei.

É lamentável notar que a atual administração parece empenhada em negar na prática suas promessas de campanha. Nesses oito meses, criou cerca de mil novos cargos de confiança e concedeu a seus ocupantes aumento de 40%. Para os funcionários efetivos, nada além de 4% de reajuste. Não tem aplicado, como ficou demonstrado recentemente, o total de recursos que deveria na área da educação, contrariando a Lei Orgânica do Município. Agora, descobre-se que ela tem uma irresistível vocação para fazer contratos de emergência. E por aí vai, na mais absoluta falta de transparência. Os paulistanos que tanto queriam se livrar da arrogância de Maluf e da inépcia de Pitta acabaram elegendo os dois em um - ou melhor, em uma.

*Milton Flávio é deputado pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo

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