BANCOS: PROSPERIDADE EM MEIO AO DESALENTO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
22/08/2001 12:15

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Os homens do governo FHC torcem o nariz e esbravejam quando são rotulados de neo-liberais e quando vinculam esta política econômica ao capital financeiro e especulativo. Dizem que a crítica não procede e não passa de jargão ideológico de derrotistas.

Seria bom que isso fosse verdade. No entanto, os números estão aí para desdizer os que tentam desmentir a realidade. Os levantamentos do IBGE constatam que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,99% no segundo trimestre de 2001 em relação ao período imediatamente anterior. Comparando os três primeiros meses deste ano em relação ao ano passado houve um crescimento de 4,28% e, no último trimestre, comparado com igual período de 2000, a taxa de crescimento refluiu, ficando em 0,79%. O PIB é um indicador da atividade econômica e esses dados estatísticos refletem o desaquecimento econômico num cenário de desvalorização cambial, alta de juros e crise de energia.

Porém, nem tudo são espinhos. De acordo com levantamento da Secretaria de Estudos Sócio-Econômicos do Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo, os bancos fogem à regra, com resultados espetaculares. Por exemplo, os bancos Bradesco e Itaú lucraram nos seis primeiros meses deste ano cerca de R$ 2,4 bilhões, o que significa um incremento de 41,5% em relação ao primeiro semestre de 2000. Em maior ou menor grau o fenômeno se repetiu com os demais bancos, o que demonstra que a área financeira atravessa um momento positivo, bem diferente da situação do sistema produtivo, cujo cenário é de recessão.

Isso nos remete novamente a alertar sobre a fragilidade de uma economia baseada em empréstimos e em aporte de capital externo especulativo. Com nosso sistema produtivo estagnado, como é que podemos gerar recursos para um crescimento sustentado da economia?

Não podemos e isso pode ser comprovado pelos próprios indicadores do Banco Central do Brasil. De acordo com esses dados aumentou nossa dependência diante do capital externo, a contar do primeiro mandato de FHC até o ano 2000. Dentre os 11 índices de vulnerabilidade acompanhados pelo BC, 10 pioraram; entre os quais saltam aos olhos os gastos com a dívida externa que aumentou de 3% para 9,4% do PIB, e a parcela das exportações comprometidas pelos gastos da dívida externa, que subiu 120,6%.

Sinceramente, gostaria de ser contagiado pelo otimismo do Malan. Otimismo realmente faz bem. O que não faz bem é tapar o sol com a peneira. Precisamos, antes de mais nada, ter consciência das nossas vulnerabilidades para virar o jogo, fortalecer o setor produtivo e colocar o país na trilha do crescimento sustentado, sem o qual não será possível diminuirmos as graves desigualdades sociais existentes no Brasil.

Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil e presidente estadual do PPS. Foi Secretário da Habitação (1993) e Relator Geral do Fórum São Paulo Século XXI.

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