Muito interessante a observação do sociólogo da Unesp sobre o deslumbramento que a sociedade e os governos petistas têm um com o outro no início das administrações. Para ele, a lua-de-mel começa a ficar amarga depois que vence o IPTU, um exemplo de que, passada a euforia do novo, a população começa a perceber que fazer promessas é muito mais fácil do que promover milagres.

Com a imagem de serem oposição e mestres em criar factóides, os prefeitos do PT nada mais fizeram nas primeiras semanas no poder do que promover uma prorrogação do período eleitoral. Em Ribeirão Preto, especificamente, vendem como novo o fato de que a cidade terá uma Faculdade de Tecnologia ((Fatec) por esforço deles. Mais um factóide. A população deve se lembrar bem que o próprio secretário de Ciência e Tecnologia veio à cidade no ano passado anunciar a criação da faculdade. Querem agora fazer chover no molhado.

É relativamente fácil chamar a atenção da imprensa no período de vacas magras para os pauteiros de jornais. No começo, tudo é festa ou crítica aos governos anteriores, rende boas manchetes e vende ao espectador a imagem de que se trabalha de alguma forma, nem se for para chamar a atenção dos editores de jornais e chefes de reportagem.

Logo depois, a imprensa vai percebendo que as visitas aqui e ali e as promessas de reformas, reformulação disso e daquilo precisam de dinheiro para serem feitas. Aliás, dinheiro é que o menos se tem na prefeitura, segundo choramingam os novos administradores.

Li, na semana passada, uma reportagem que dizia que o novo prefeito havia ido ao posto de saúde para comprovar o que todo mundo já sabia e que talvez o pior que ele esperava ver - que era a falta de remédios ou coisa do gênero - não tinha se concretizado. Em São Paulo, a prefeita do PT quis se promover no almoço montado para moradores de rua, deu o primeiro tiro pela culatra.

Organizado para dezenas de pessoas, a assessoria da prefeitura precisou providenciar com urgência centenas de quentinhas para as outras centenas de pessoas que ficaram sabendo do almoço. A prefeita chegou escoltada pela Guarda Municipal e depois deixou a imprensa trancada em um quarto para que ela não fosse incomodada durante uma visita.

Em Araraquara, o prefeito, também do PT, anuncia que já encomendou uma reformulação na planta genérica, levantamento que define o valor cobrado de IPTU, e a intenção de se cobrar o imposto progressivo - a carga tributária sobre o cidadão depende do número de imóveis que ele tem.

O marketing não se sustenta por ele mesmo. A população vai percebendo que, muito mais do que factóides e promessas, ela quer ver os problemas resolvidos. Fora o que se vê na televisão, nas rádios e jornais, o cidadão percebe que a realidade bate à porta quando as contas começam a vencer.

Antonio Duarte Nogueira Júnior, 36, é engenheiro agrônomo, deputado estadual, vice-líder do governo na Assembléia Legislativa, vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (95/96).