Os números não falam

OPINIÃO - Milton Flávio*
21/01/2005 15:48

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A vantagem de se acumular anos - se é que há realmente alguma vantagem nisto - é que a gente acaba aprendendo que os números não mentem, embora nunca se possa dizer o mesmo dos que os produzem e interpretam. A piada é velha, mas pertinente. Não há surpresa, portanto, no fato de que a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), derrotada nas urnas, tenha deixado o governo com bons índices de aprovação popular. Dos que bateram palmas à sua gestão, noves fora os que o fizeram por exigência partidária ou ingenuidade política, na verdade, muitos deles ignoravam a bomba que ela colocara sob o travesseiro de seu sucessor, o atual prefeito José Serra (PSDB). Tivessem ciência de parte das lambanças econômico-financeiras praticadas na sua tentativa de se reeleger, é provável que seus índices de aprovação fossem outros. No apagar das luzes, o governo petista fez o que pode - e, sobretudo, o que não deveria - para livrar sua titular de eventuais punições da Justiça. O que nos é dado saber hoje não dá margem a dúvidas: a responsabilidade fiscal de sua gestão repousa, se tanto, num café de Paris. Ou - quem sabe? - num dos camarins do imponente Scalla de Milão. Lê-se nos jornais que a ex-prefeita, provável candidata do PT ao governo do Estado de São Paulo, em 2006, criou um instituto próprio com a finalidade precípua de disseminar suas "realizações" mundo afora, ora em aviões de carreira, ora a bordo do "AeroLula". Por que não? Sua Excelência, o presidente Lula, já deu provas suficientes de que não abre mão, de forma alguma, de gozar o deslumbramento que o cargo lhe aguçou até não mais poder. Quais seriam, afinal, as "realizações" dignas do nome da ex-prefeita? Pelo que as folhas nos permitiram saber, o carro-chefe será mesmo os tais de Centros de Educação Unificados - uma réplica pomposa e dispendiosa dos velhos CIEPS, CIACS e invenções afins, que sempre fizeram a alegria de empreiteiros e a ruína dos estudantes de baixa renda. Não se tem notícia de que, tirante os filósofos petistas, boa parte dos quais encastelada em cargos de confiança, alguém se disponha a defender tamanha "originalidade". Se Marta Suplicy não fosse Marta Favre, daria ao instituto que acaba de criar destinação mais nobre: mostrar aos cidadãos que sua gestão primou, isto sim, por gastos excessivos com publicidade, contratação de milhares de militantes petistas (que sangraram os cofres), realização de obras caras e sem respaldo financeiro, irresponsabilidade fiscal, descaso com a cidade, desrespeito aos cidadãos que pagam cada vez mais taxas e impostos e estão sempre na iminência de se afogar no túnel recém-inaugurado da Rebouças. Ora, mas alguém tem notícia de político que tenha dado um tiro no próprio pé? Agora, a bola está com o Ministério Público. A quem compete dar voz (de prisão?) aos números herdados.

*Milton Flávio é médico e deputado estadual pelo PSDB-SP

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