Jovens assassinos, a droga e os palpiteiros

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
02/12/2002 18:27

Compartilhar:


A sociedade brasileira, ainda sob o impacto do cruel assassinato do casal Richthofen pela filha Suzane e por dois comparsas, recebeu outro duro golpe no fim de novembro: nova tragédia de âmbito doméstico lançou mais uma onda de discussões sobre a família e a droga. O estudante Gustavo de Macedo Pereira Napolitano, de 22 anos, matou sua avó, Vera Kuhn Pereira, de 73 anos, e a empregada da casa, Cleide Ferreira da Silva, de 20 anos. Assim como o caso Richthofen, o crime ocorreu em São Paulo. Essas duas tragédias tiveram como assassinos jovens estudantes da classe média que usavam drogas.

Quando acontecem crimes desse tipo, a imprensa sai em busca de explicações e, invariavelmente, publica opiniões de psiquiatras e de psicólogos a respeito do que leva uma moça a matar os pais e um rapaz a assassinar a avó. Dentro desses quadros, ressalta-se que os assassinos eram consumidores de maconha e de cocaína. O problema é que alguns dos profissionais ouvidos pela mídia têm uma visão tolerante em relação à droga. Apareceram absurdos nos grandes jornais: o dr. Sérgio Seibel, do Comitê de Drogas da Associação Paulista de Medicina, e o dr. Dartiu Xavier da Silveira, na Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), declararam, por exemplo, que nenhuma droga leva ao crime.

Trata-se de uma posição lamentável desses especialistas. No caso do jovem Gustavo, ficou claro que ele, por ser viciado em drogas, cometeu absurdos, chegou a trocar um automóvel por 55 papelotes de cocaína, assassinou a avó, a empregada, e disse que mataria também a mãe, se ela estivesse em casa naquele momento de "surto". O moço pode até ter má índole ou falha de caráter, mas, sem dúvida, a droga influiu.

O Brasil vive de palpiteiros, os "especialistas". Em época de Copa do Mundo, somos 175 milhões de técnicos de futebol arriscando prognósticos sobre o jogo da seleção brasileira, mas existem também os "achólogos" diferenciados, com mais experiência, que escrevem artigos e falam em microfones. No âmbito da economia, sempre aparece alguém para dar uma explicação sobre o aumento do dólar ou sobre o risco da inflação. Já na área dos crimes, existem os puramente teóricos e os verdadeiros conhecedores do assunto.

Por uma ironia do destino, Gustavo de Macedo Pereira Napolitano, assassino confesso de sua avó, teve um avô que exerceu grande atuação como especialista em drogas em São Paulo: o delegado Murillo de Macedo Pereira, que morreu há dois anos, aos 72 anos de idade. Tive a honra de conhecer esse eficiente profissional, que tinha o apelido de Murillão 007 e era de Mogi das Cruzes. Ele publicou vários livros e estudos sobre as drogas e teve seus trabalhos em 35 países. Ao lançar uma pesquisa a respeito da influência das drogas, há alguns anos, Murillo fez um agradecimento público a vários colaboradores, entre os quais ao seu neto Gustavo, que, então, havia digitado o texto no computador.

Pois bem: Gustavo, neto de Murillão e de dona Vera Kuhn, filho de Vera de Macedo Pereira, foi criado com amor e recebeu orientação sobre o perigo das drogas. Mesmo assim, envolveu-se com maconha e, depois, com cocaína. Matou a avó e a empregada. É claro que as drogas exerceram um papel decisivo em seu comportamento, a ponto de torná-lo agressivo e sem freios. Não podemos ficar aceitando teses furadas e perigosas de palpiteiros que não vêem ligação entre a droga e o crime. A droga mata, sim. E ajuda a matar.

alesp