Somos vítimas hoje de uma política que foi imposta pelos tucanos neste país, que tenta transformar os trabalhadores em geral, mas de forma ainda mais cruel o funcionalismo público em inimigos da sociedade. Parte dessa política é justamente composta pela ausência de uma política salarial e de valorização dos recursos humanos do setor público. Como, neste país, a divisão entre os poderes é muito tênue, muitas vezes o Judiciário e o Legislativo cumprem à risca as orientações que vêm do Executivo. Não temos em São Paulo, como no Brasil, uma política salarial digna deste nome, porque no reino dos tucanos a inflação acabou, a moeda ficou forte e o Estado deixou de ter importância na prestação dos serviços à população. No reino dos tucanos os trabalhadores do serviço público continuam sendo apresentados à sociedade como marajás, que foi a linha de ataque que o presidente Collor de Mello apresentou ao desmontar o serviço público. É muito comum que esse discurso seja repetido, às vezes pelo presidente da República, às vezes pelo governador, às vezes pelos prefeitos.Precisamos mudar esta lógica. Ao longo deste ano, foi rotina a presença do funcionalismo na Assembléia Legislativa para reivindicar seus direitos. É uma ficção imaginarmos que existe um processo de negociação salarial em curso no Estado brasileiro. Estiveram na Assembléia, manifestantes do Poder Executivo; os trabalhadores das universidades; docentes e funcionários; os professores da rede oficial de ensino; o pessoal da área da saúde e também funcionários do governo federal: da Previdência Social, do Sistema Único de Saúde. Todos foram à Assembléia Legislativa porque reconhecem que o Legislativo pode, se quiser, manifestar a sua independência, contestar essa política de destruição nacional imposta pelo presidente FHC, repetida em São Paulo pelo governador Mário Covas.A bancada do PT se manteve firme e sempre junto aos trabalhadores do serviço público estadual, aos trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público. Não adianta querer transformar reivindicações salariais em crimes que precisam ser reprimidos. Terminamos o século XX com as imagens vexaminosas e vergonhosas proporcionadas pela Polícia Militar do nosso Estado, que foi colocada contra os trabalhadores na avenida Paulista para criminalizar o movimento justo de reivindicação social. Por quê? Porque a avenida Paulista é o símbolo do capital e não pode ser chamuscada com o fogo da manifestação popular. O caminho do povo brasileiro, no contexto deste modelo e deste governo, é o caminho das ruas, é o caminho de ocupar as praças públicas, as estradas, para dizer que precisamos dar um basta a esta política. Espero que o primeiro ano do novo milênio seja de muita luta e vitórias para o povo do Brasil e de todo Mundo.*Renato Simões é deputado estadual pelo PT, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e relator da CPI estadual da narcotráfico.