OS DIREITOS DOS TRABALHADORES E OS DIREITOS HUMANOS - OPINIÃO

Renato Simões*
19/12/2000 16:32

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Somos vítimas hoje de uma política que foi imposta pelos tucanos neste país, que tenta transformar os trabalhadores em geral, mas de forma ainda mais cruel o funcionalismo público em inimigos da sociedade. Parte dessa política é justamente composta pela ausência de uma política salarial e de valorização dos recursos humanos do setor público. Como, neste país, a divisão entre os poderes é muito tênue, muitas vezes o Judiciário e o Legislativo cumprem à risca as orientações que vêm do Executivo. Não temos em São Paulo, como no Brasil, uma política salarial digna deste nome, porque no reino dos tucanos a inflação acabou, a moeda ficou forte e o Estado deixou de ter importância na prestação dos serviços à população. No reino dos tucanos os trabalhadores do serviço público continuam sendo apresentados à sociedade como marajás, que foi a linha de ataque que o presidente Collor de Mello apresentou ao desmontar o serviço público. É muito comum que esse discurso seja repetido, às vezes pelo presidente da República, às vezes pelo governador, às vezes pelos prefeitos.

Precisamos mudar esta lógica. Ao longo deste ano, foi rotina a presença do funcionalismo na Assembléia Legislativa para reivindicar seus direitos. É uma ficção imaginarmos que existe um processo de negociação salarial em curso no Estado brasileiro. Estiveram na Assembléia, manifestantes do Poder Executivo; os trabalhadores das universidades; docentes e funcionários; os professores da rede oficial de ensino; o pessoal da área da saúde e também funcionários do governo federal: da Previdência Social, do Sistema Único de Saúde. Todos foram à Assembléia Legislativa porque reconhecem que o Legislativo pode, se quiser, manifestar a sua independência, contestar essa política de destruição nacional imposta pelo presidente FHC, repetida em São Paulo pelo governador Mário Covas.

A bancada do PT se manteve firme e sempre junto aos trabalhadores do serviço público estadual, aos trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público. Não adianta querer transformar reivindicações salariais em crimes que precisam ser reprimidos. Terminamos o século XX com as imagens vexaminosas e vergonhosas proporcionadas pela Polícia Militar do nosso Estado, que foi colocada contra os trabalhadores na avenida Paulista para criminalizar o movimento justo de reivindicação social. Por quê? Porque a avenida Paulista é o símbolo do capital e não pode ser chamuscada com o fogo da manifestação popular.

O caminho do povo brasileiro, no contexto deste modelo e deste governo, é o caminho das ruas, é o caminho de ocupar as praças públicas, as estradas, para dizer que precisamos dar um basta a esta política. Espero que o primeiro ano do novo milênio seja de muita luta e vitórias para o povo do Brasil e de todo Mundo.

*Renato Simões é deputado estadual pelo PT, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e relator da CPI estadual da narcotráfico.

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