OPINIÃO: A Água e a Fraternidade

José Caldini Crespo*
10/03/2004 16:49

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Não poderia ser mais oportuno o tema escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Campanha da Fraternidade (CF) de 2004, em sua 40ª edição. Associando o tema "Fraternidade e Água" ao lema "Água, fonte de vida", a Igreja Católica oferece uma enorme contribuição para suscitar o debate em torno da problemática da água no país.

Ao levar às comunidades a reflexão sobre a importância da economia e, principalmente, da preservação das nascentes e mananciais de água, a CF, muito mais do que alastrar um sentimento de preocupação, multiplica a necessidade do despertar da consciência da população de uma forma geral.

Há pouquíssimos dias, os moradores de Sorocaba tiveram uma noção da importância do simples ato de abrir e fechar uma torneira. Por uma semana, em decorrência do rompimento das adutoras que abastecem a cidade, praticamente toda a população se viu obrigada a um racionamento absoluto que, em alguns bairros, se estendeu por um tempo ainda maior. Mesmo sabendo que a situação emergencial duraria poucos dias, o sorocabano sentiu na pele o que é viver com a escassez de água.

Se em Sorocaba, devido ao rompimento acidental, o sinal vermelho ficou aceso, em muitos outros municípios o que se tem visto é um sinal "alaranjado", em razão da permanente ação predatória e destruidora do homem em relação às suas fontes de abastecimento de água. As agressões vão desde o desperdício de uma água cada vez mais rara e difícil de ser captada e tratada até a destruição de nascentes.

Poderíamos citar também as matas ciliares que existem - e também por isso deveriam ser preservadas - para proteger as margens dos rios dificultando, por exemplo, o seu assoreamento e contaminação por agrotóxicos, usados na lavoura. Não fosse isso suficiente, há também o descaso com que são tratadas as águas dos rios - transformados pela ação devastadora dos homens em reles canais para o despejo de seus dejetos, sejam eles domésticos ou industriais.

Se a preocupação com o meio ambiente ainda engatinha entre muitos, os aspectos econômicos desse comportamento irracional deveriam trazer muitos à luz: quanto mais longe a água tiver que ser buscada e quanto mais tiver que ser tratada para poder ser ingerida, mais cara ela vai custar ao bolso de cada um.

É fundamental que se tenha, de forma cristalina, a noção do estrago que estamos provocando em nossos mananciais e, principalmente, que se tenha consciência de que a água é um bem finito e que precisa ser preservada e utilizada de forma racional.

Para se ter uma noção da importância da água para o ser humano, basta dizer que a ciência aponta que uma pessoa pode suportar muitos dias sem se alimentar, mas dificilmente sobreviveria a mais de dois ou três dias sem ingerir água. Mais do que oportuna, a iniciativa da Igreja Católica de colocar a questão da água no centro da discussão da CF deste ano é fundamental e necessária.

*José Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL e membro da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado.

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