NUVENS PASSAGEIRAS - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
21/03/2002 12:00

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Altas temperaturas seguidas de precipitações pluviométricas passageiras, mas de grande intensidade. Este é um quadro do clima de verão e que pode ser aplicado ao cenário atual das eleições presidenciais no Brasil. O fato é que as eleições ainda não fazem parte do universo cotidiano do brasileiro e as intenções de votos, medidas pela pesquisas eleitorais, tal qual chuva de verão, inundam e passam rápido.

De qualquer forma é bom ficar de olho nas conseqüências da enchente. Podem tentar nos convencer de que algumas destas chuvas vieram para ficar. Falo particularmente, não da tromba d'' água Roseana, mas de uma tempestade tropical de nome José Serra.

Para não permanecer no campo do impressionismo é bom recordar que no mês de março dos anos de 89 e 94 lideravam as pesquisas, respectivamente, Leonel Brizola e Lula. Brizola nem chegou ao segundo turno, numa eleição vencida por Collor. Lula foi fragorosamente batido por Fernando Henrique Cardoso, cuja performance no mês de março beirava os 11%, atrás do próprio Lula e de Maluf. Isso para não falar do fenômeno Sílvio Santos que, durante o mês que separou o lançamento e a impugnação da sua candidatura, em outubro de 89, abalou as estruturas de campanhas já consolidadas, chegando a empatar tecnicamente com Collor de Melo.

É verdade que em 98, março já antecipava vitória de FHC, mas tratava-se de um caso de reeleição, no qual o rolo compressor do Planalto atropelou todos os obstáculos, embora estejamos pagando a conta da farra até hoje.

De volta ao cenário atual, fica evidente o caráter efêmero das intenções de votos destinadas a Roseana, Serra e Garotinho. Estão fundadas em inserções massivas na TV, associadas - no caso do Serra principalmente, a máquina pública e à boa vontade extrema da mídia. Porém, não há marqueteiro que consiga esconder todo o tempo os vícios dos candidatos. Mais cedo ou mais tarde eles aparecem e já começam a aparecer: A Maria Maria do processo eleitoral, Roseana Sarney já foi acometida pela Dengue, ou melhor, foi contaminada pelo esquema Serra; Garotinho já está a tropeçar na própria língua e tem dificuldades sérias em mostrar consistência nas propostas; José Serra tem na sua maior virtude o seu principal defeito - sua obstinação ora transforma-se em obsessão, o que remete a um instinto destrutivo avassalador, fatal em eleições onde a capacidade de agregar é vital.

Dos candidatos postos, sobram Lula e Ciro, mas Luís Inácio é o típico maratonista fadado a estar entre os primeiros, mas a quem a vitória nunca sorri: não consegue aglutinar forças além do seu horizonte partidário e, infelizmente, sofre uma rejeição de corte, não ideológica como imaginam alguns, mas vinculada a preconceitos de ordem social e cultural.

Para a mudança que o país precisa, resta Ciro e aí reside um fenômeno interessante: Ciro mantém um patamar nas pesquisas herdado da campanha presidencial anterior, na qual esteve ancorado em míseros minutos televisivos; mantém-se amarrado na pouca inserção de mídia, da qual se libertará mais para frente, quando terá os espaços garantidos pela aliança com PDT e PTB; tem demonstrado consistência nas idéias e programas, passando além de tudo a imagem de inatacável do ponto de vista ético e moral.

Enquanto as tempestades vêm e vão, Ciro dá ares de estação climática mais definida, com temperaturas constantes e poucas oscilações. Quem viver, verá!

*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, foi secretário da Habitação (1993) e relator geral do Fórum SP Séc. XXI. É presidente estadual do PPS.

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