A situação da Santas Casas de Misericórdia do Estado de São Paulo foi tema de audiência pública, nesta terça-feira, 20/6, no auditório Teotônio Vilela da Assembléia Legislativa. Iniciativa dos deputados Vanderlei Siraque e Hamilton Pereira, ambos do PT, a audiência foi realizada pela Comissão de Saúde e Higiene, presidida pelo deputado Pedro Tobias (PDT). Participaram como debatedores o presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, Gilberto Natalini; o representante do Conselho Estadual de Saúde, Naelson Correa Guimarães; o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia do Estado de São Paulo, José Alberto Monte Claro; representante do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Gilberto Luis Scarazatti; o presidente da Federação Médica do Estado de São Paulo, Antonio Sergio Esmael; o presidente da Federação dos Empregados nos Estabelecimentos de Serviço de Saúde, Edison Laércio; e os promotores do Ministério Público, César Pinheiro Rodrigues e João Luiz Marcondes Júnior.O diagnóstico da crise vivida pelas Santas Casas é unânime: ausência de recursos. "O nó do sistema é o financiamento", disse Gilberto Natalini, sublinhando que as Santas Casas são responsáveis pelo atendimento de 6 milhões de famílias, ou 25 milhões de pessoas, no Estado de São Paulo. Natalini também destacou a luta nacional, na qual estão envolvidos secretários municipais, legislativos municipais e estaduais e vários segmentos da sociedade, para que seja aprovada a Proposta de Emenda Constitucional que vincula recursos orçamentários da União, dos Estados e Municípios à Saúde. "Teríamos um acréscimo de R$ 4 bilhões para a saúde".Já para o Conselheiro Estadual da Saúde, Naelson Corrêa Guimarães, o grande estranhamento é com relação ao fato de não existir nenhum controle social sobre essas instituições filantrópicas. "As Santas Casas não aceitam e não praticam o controle social. Encontram-se ainda atadas às suas características de origem, elas reproduzem a tradição conservadora dos tempos coloniais. É preciso que elas desçam do pedestal do conservadorismo e aceitem o grande avanço do controle social. Fora disso, não podemos discutir ajuda para as Santas Casas."O presidente da Federação da Santas Casas de São Paulo, José Alberto Monte Claro, esclareceu que as Santas Casas não recebem repasses de verbas do governo a título de fundos perdidos. "O Sistema Único de Saúde (SUS) não faz nenhum favor às Santas Casas, apenas paga, aliás muito mal, pelos serviços de saúde prestados à população. Recebemos por uma diária de internação valores menores que um sanduíche do Mc'Donalds." Segundo Monte Claro, poucos sabem o que acontece nas Santas Casas. A situação financeira é muito complicada e os custos de modernização são muito altos. Ao mesmo tempo, sua participação no atendimento à saúde pública é de enorme importância, mais de 50% dos leitos utilizados pelo SUS são desses hospitais filantrópicos. Por isso, Monte Claro defende a imediata correção das tabelas do SUS e a aprovação pelo Senado da PEC da Saúde.Gilberto Luis Scarazatti e Antonio Sergio Esmael reconheceram que hospitais públicos no Brasil são as Santas Casas e que estas são a base de funcionamento do SUS. Ambos destacaram que um dos principais problemas da classe médica com os hospitais filantrópicos diz respeito à ausência de relações trabalhistas formais. Segundo Scarazatti, os médicos não têm ação organizada nem projeto hospitalar. E as Santas Casas, por sua vez, não têm modernidade suficiente para organizar relações trabalhistas estáveis." Na mesma direção, o presidente da Federação dos Empregados nos Estabelecimentos de Serviços de Saúde, Edison Laércio, criticou: "Posso garantir que, em 4 anos, muitas Santas Casas devem fechar suas portas por má administração." Ele atribuiu parte da crise à falta de transparência e ao "loteamento aberto e desmoralizador das instituições".Os promotores Cesar Pinheiro Rodrigues e João Luiz Marcondes Jr. explanaram sobre a atuação do Ministério Público com relação às Santas Casas. Segundo Rodrigues, há por parte do MP um duplo sentimento de frustração e acanhamento, visto que muito pouco pode fazer para ajudar na solução dos problemas enfrentados pelas filantrópicas, já que são de natureza financeira, tendo, por outro lado, o papel precípuo de fiscalizar e cobrar resultados, ou seja o serviço de saúde integral e de qualidade. "Chutamos o cachorro morto. O MP é o fiscal e encontra-se também numa situação delicada. Mas, não medirá esforços para efetivar a fiscalização, bem como auxiliar o Legislativo na busca de soluções", declarou Rodrigues. Já para o promotor João Luiz, "Saúde é matéria de relevância pública. Compete, portanto, ao MP cobrar dos órgãos competentes o efetivo atendimento dos serviços para a população. Não nos interessa os modos pelos quais os serviços sejam prestados, mas que sejam efetivamente prestados e com qualidade."