UM ÍNDICE PARA A VIDA - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
18/08/2000 14:52

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Estamos comemorando um ano da instalação do Fórum São Paulo Século XXI, criado com o objetivo de reunir a sociedade paulista para discutir e planejar o desenvolvimento sustentado do Estado para o próximo século.

Desde o início acreditávamos no sucesso da empreitada mas, sinceramente, a realidade superou nossas expectativas. O Fórum acolheu a ânsia de participação da nossa sociedade e colocou o dedo na ferida, numa questão-chave para a definição do que queremos para o nosso Estado no próximo milênio: a necessidade da definição de um modelo e de uma visão estratégica de crescimento.

Graças à contribuição de estudiosos e lideranças sociais estamos enfrentando este desafio e criando um indicador - "Índice da Cidadania" - que será parâmetro para orientar o desenvolvimento do Estado. Índice que incorpora aos aspectos quantitativos e de infra-estrutura (estradas, rodovias, escolas, casas próprias, telefone, água e esgoto) os aspectos qualitativos relacionados à condição social das pessoas (renda e fonte de renda, expectativa de vida, grau de educação, estabilidade no trabalho, nível de segurança, grau de satisfação com a vida que leva etc).

É chamado de indicador de "terceira geração", pois evolui em relação ao IDH da ONU, na medida em que também incorpora, de forma interativa, conceitos como participação e esforços realizados, fixando assim referências comparativas e definindo que políticas públicas produzem melhor e mais rápidos resultados.

Traz o universo das pessoas para o mundo frio das estatísticas, procurando revolucionar os parâmetros que caracterizam a sociedade como desenvolvida. Um índice que não leva apenas em conta os indicadores oriundos da banda inserida da sociedade mas que dá um peso significativo a todos os aspectos relativos ao cotidiano dos excluídos. O objetivo fundamental é tirar a sujeira de baixo do tapete, desnudar nossa realidade e destacar assim políticas públicas que efetivamente mudem a vida das pessoas.

Afinal de contas de que adianta aumentar o número de escolas e postos de saúde se os índices de repetência e de mortalidade infantil não forem drasticamente modificados? De que adianta pontes, estradas e viadutos, se a maioria do povo tem uma limitação econômica clara para o seu direito de ir e vir? De que adianta a melhora na renda per capita se ela é obtida pelo aumento da distância entre os mais ricos e os mais pobres?

Com esse novo Índice da Cidadania, orientando e ordenando políticas públicas, o Estado de São Paulo irá revolucionar o conceito de desenvolvimento.

O "Índice da Cidadania" é a face visível de um trabalho muito bonito que foi construído ao longo de 99 debates e 37 seminários, que envolveram mais de 200 palestrantes e cerca de 3.000 pessoas, além de um cadastro de 1.531 integrantes regulares. São cidadãos que têm dado uma parcela do seu tempo para ajudar a construir uma visão estratégica, que poderá gerar políticas consistentes que não oscilem ao sabor da conjuntura política, mas que possam irmanar a sociedade acima das divergências partidárias pontuais e acima de divergências ideológicas, num esforço comum de desenvolvimento.

Até o final do ano de 2000, o relatório do Fórum, que tenho a honra de estar preparando, deverá ser entregue. Será a coroação de um trabalho que já é vitorioso graças à dedicação dos parlamentares e à contribuição de cientistas, pesquisadores, líderes sindicais, comunitários e empresariais. Espero que com o relatório apresentado e aprovado tenhamos efetivamente um guia para o desenvolvimento consistente e sustentado de São Paulo, centrado na qualidade de vida dos cidadãos que aqui vivem.

*Arnaldo Jardim , engenheiro civil, é deputado estadual pelo PPS e Relator Geral do Fórum São Paulo Século XXI.

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