Opinião - Enfrentar a crise ético-moral do tucanato em Sorocaba


16/10/2009 17:18

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A cidade de Sorocaba, onde vivo desde os quatro anos de idade e iniciei minha militância, enfrenta uma grave crise ético-moral, num patamar que não é mais possível camuflar. Desde o início da atual gestão comandada pelo prefeito reeleito Vitor Lippi (PSDB), sete secretários municipais já caíram por denúncias de envolvimento em todo tipo de atividade criminosa.

Na última semana, os secretários de Governo e Planejamento, Maurício Biazotto, e de Desenvolvimento Econômico e Habitação, José Dias Batista Ferrari, foram presos na Operação Pandora " que investiga o pagamento de propinas para liberação de alvarás no município. Um mês antes, o ex-secretário da Administração, Januário Renna, fora preso por prática de pedofilia. O caso inclusive é tema de apuração da CPI da Pedofilia no Senado, por proposição deste deputado.

Para mim, embora lastimável, essa crise não é exatamente uma surpresa. Sempre denunciei as relações perigosas que derivam do financiamento privado de campanhas eleitorais. Quando fui candidato a prefeito de Sorocaba, em 2008, mais uma vez pautei esse tema e, mesmo enfrentando forte reação das elites locais, não me arrependo nem por nenhum segundo de ter dito a verdade à população. Porque as denúncias, que ora estampam as páginas dos jornais, comprovam a correção de minhas preocupações. Mais que isso, evidenciam a necessidade de reformulação do sistema eleitoral brasileiro e do fim do financiamento privado de campanha, que nós do PSOL combatemos com afinco. E exigem responsabilização penal de todos os envolvidos nos esquemas denunciados, para coibir, no futuro, a lástima na qual a certeza de impunidade dos poderosos jogou o município de Sorocaba e tantos outros.

Meu mandato dedicará todos os esforços nesse sentido, porque fui eleito para representar os interesses do povo e não o balcão de negócios da política nacional. Por isso, pedi a cassação das licenças especiais concedidas pelo prefeito Vitor Lippi aos secretários Biazotto e Ferrari, que chegaram a ser presos em razão das denúncias de envolvimento em atos ilícitos. Em ação popular, reivindico que a Justiça anule os atos administrativos, que concederam as licenças, e recomende a exoneração dos dois secretários.

Também solicitei ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público estadual, que investigue a eventual participação do prefeito Vitor Lippi nas ilegalidades denunciadas. Até porque a rede de hipermercados, acusada de pagar propina de R$ 500 mil para a liberação das obras de sua segunda unidade na cidade, foi uma das maiores doadoras da campanha eleitoral do atual prefeito, em 2008. À época, José Dias Batista Ferrari era o tesoureiro da campanha.

Encaminhei também requerimento à Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo para investigação de eventuais crimes eleitorais, abuso de poder econômico e possível utilização de caixa dois, na última campanha eleitoral de Vitor Lippi, uma vez que o tesoureiro da campanha está sendo investigado por participação em esquema de corrupção.

A elucidação de todas as suspeitas e denúncias em profusão, que deixam perplexa a população sorocabana e de todo o país, é fundamental. Se elas sumirem das páginas dos jornais, e virarem pastas empoeiradas nos escaninhos do Judiciário, só se reforçará o convencimento da população de que política e corrupção são irmãs siamesas. Nós do PSOL não nos imiscuímos nesse mar de lama e, por isso, lutaremos até o fim para que tais denúncias não acabem em pizza.



*Raul Marcelo é deputado estadual pelo PSOL e líder de bancada.

alesp