OS CACHORROS DO BRASIL - OPINIÃO

Milton Flávio*
21/02/2001 15:36

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Existe uma velha máxima no jornalismo segundo a qual se o cachorro morder o homem não há notícia, mas se, ao contrário, o homem morder o cachorro é primeira página na certa. Os tempos, porém, mudaram. Hoje, há cães de uma ferocidade medonha. Quase todas as semanas eles ocupam um grande espaço na mídia em função de suas mordidas.

O objetivo desse artigo, no entanto, não é falar sobre cães. O que se pretende é discorrer sobre boas notícias - algo raro de se encontrar no dia-a-dia, não porque elas não existam, mas porque se convencionou achar que notícia só é notícia quando é ruim, uma das muitas versões do homem que morde cachorros.

Dias atrás, a imprensa divulgou dados preliminares de uma pesquisa realizada por uma importante empresa de consultoria internacional, a A.T. Kearney. Foram ouvidos mil executivos de vários países, cujas companhias são responsáveis por nada menos que 70% dos investimentos estrangeiros no mundo. Os resultados foram favoráveis ao Brasil, que ficou em terceiro lugar, atrás dos Estados Unidos e da China, no ranking dos países que inspiram maior confiança entre os investidores internacionais. Superamos o Reino Unido, México, Alemanha, Índia, Itália, Espanha e França. A vizinha Argentina ficou em 24.º lugar. De acordo com os entrevistados, vale a pena investir no Brasil em razão do seu mercado gigantesco, do crescimento da classe média, da estabilidade política e da legislação, que não discrimina os investidores internacionais.

No mesmo dia, os jornais registraram uma segunda boa notícia para nós. Após um ano e meio de estudos e avaliações, o Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos) enviou um documento ao presidente George W. Bush por meio do qual defende uma completa mudança da política norte-americana em relação ao Brasil, a fim de que o Mercosul não venha a ter a União Européia como parceira preferencial.

A razão do alerta é óbvia - o tamanho do mercado brasileiro: o 2.º maior do mundo para jatos executivos e helicópteros, o 2.º para telefones celulares e aparelhos de fax, o 3.º para refrigerantes, o 4.º para refrigeradores e por aí afora. Mais um detalhe: mais de 40% dos internautas da América Latina estão concentrados no País

O que importa é perceber que, a duras penas, o Brasil reconquistou a confiança dos investidores internacionais e passou a ser visto por outros países como um parceiro fundamental, a ser respeitado e ouvido na mesa de negociações. Não é hora de ufanismos nem de bravatas. É o momento de aprofundar as reformas - a tributária e a política, em especial -, consolidar e ampliar as relações com os países latino-americanos e partir para a conquista de novas posições. Como se percebe, nem só de cachorradas vive-se por aqui.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo.

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