Na Assembleia se faz história todo dia

Servidor de carreira do Legislativo é guardião da memória do Parlamento e muito mais
06/03/2012 19:07

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O gosto pela pesquisa levou ao gosto pela coleção: de objetos, de revistas, de assuntos, de leis. Antonio Sérgio Ribeiro, advogado, servidor efetivo da Assembleia Legislativa, na qual ingressou por concurso público em 1982, é hoje também o guardião da memória do Poder Legislativo: nomeado pelo presidente Barros Munhoz para dirigir o Departamento de Documentação e Informação, ele é, desde 2009, o responsável pelo arquivo de toda a legislação paulista, que começa no tempo do Império e vem até hoje, e da história do Parlamento de São Paulo desde quando éramos uma província.

Colaborador do Diário da Assembleia, Serginho nos lembra de momentos importantes de nossa história e também ajuda escritores e biógrafos que usam seus serviços de pesquisa minuciosa, como Fernando Morais (que foi deputado estadual de 1979 a 1987, lembra Serginho) nos romances Olga e Chatô - o Rei do Brasil, e Jô Soares, em O Homem que Matou Getúlio Vargas e As Esganadas. Sua colaboração com o Diário da Assembleia é frequente, em biografias de parlamentares e artigos sobre datas marcantes da história do Brasil e de São Paulo, enriquecidos quase sempre com material informativo ou ilustrativo de suas coleções particulares.



Taí



Seu interesse pela pesquisa começou com uma pesquisa escolar sobre uma personalidade para um jornal mural. Ele escolheu Carmem Miranda. Enfrentou dificuldades para ter acesso a gravações antigas mas, aos poucos, foi compondo um acervo sobre a cantora, a maior parte de origem norte-americana " afinal, foi lá que Carmem Miranda fez carreira. Ao estudar a personagem, se interessou por conhecer o contexto, e foi desvendando aos poucos a história da época em que ela viveu.

"Taí é o maior sucesso discográfico da história do Brasil: 35 mil discos vendidos em 1930, o que equivaleria, hoje, a uns oito milhões de cópias". Pouco depois, em outubro desse ano, uma revolução levaria ao poder Getúlio Vargas e encerraria o governo de Washington Luís. Foi assim que uma pesquisa sobre uma cantora brasileira que se tornou estrela de Hollywood levou a outra, sobre a política brasileira, mais uma sobre os costumes da época, a vida cotidiana, os automóveis. "Aí, eu comecei a me especializar. Você pega uma linha do tempo, vai colocando a vida dela, para cima e para baixo..."

Todos esses assuntos foram gerando novas pesquisas e criando o interesse em coleções. Serginho tem mais de 100 mil páginas de jornais em microfilmes no seu acervo pessoal, e entre suas coleções estão revistas, jornais, discos e muito material iconográfico. Além dos automóveis, mais uma de suas paixões.



Biógrafo



Como colaborador do Diário da Assembleia, Serginho já cedeu muitas imagens de suas coleções para artigos sobre fatos e datas importantes da história de São Paulo e do Brasil, como a série sobre os 50 anos da morte de Getúlio Vargas, a história da televisão brasileira, outra série de reportagens sobre o fim da Segunda Guerra.

Também biógrafo dos parlamentares paulistas, ele ajudou a compor na Assembleia um material referente aos deputados sobre os quais se tinha pouca ou mesmo nenhuma informação. "Infelizmente não tivemos a diligência de preservar a memória, foi coisa que não se interessaram em fazer até recentemente. Nabi Chedid, por exemplo, com quem trabalhei, teve 40 anos de Assembleia". O Poder Legislativo, lembra ele, não tinha um jornal como tem hoje, um jornal de informação. "Antes, o Diário Oficial era extremamente árido. Quando começou essa mudança, comecei a me preocupar em noticiar o passamento de deputados antigos, porque isso se perdia".



Acervo histórico



De 1835 a 1889, cerca de 400 deputados passaram pela Assembleia, e foram resgatadas informações sobre a grande maioria, mas alguns ainda requerem investigação. O acervo histórico começou a ser organizado há cerca de 30 anos, mas sem pessoal especializado e infraestrutura. A própria estrutura de funcionamento da Assembleia era bem menor, até que, em 1996, foi aprovada uma reforma administrativa que criou, entre outras, a divisão de Acervo Histórico, subordinada ao DDI.

"Nossa preocupação é o aumento físico e estrutural da divisão. Tive uma conversa com nosso secretário-geral de Admnistração, coronel Pinhata, e expus minha preocupação", diz Serginho, lembrando que há partes do acervo que não podem ficar onde estão hoje (no subsolo, por exemplo). "Tem livros raros, do século 19, guardados ali."



Pesquisador



Pesquisar é uma coisa que ele faz por prazer. Já forneceu material para Fernando Morais quando este escrevia os romances Olga e Chatô. Morais o convidou para ajudá-lo na pesquisa sobre Olga Benário Prestes, e Serginho encarou o desafio. Havia muito pouco material sobre a agente destacada pela União Soviética para acompanhar Luís Carlos Prestes e que acabou deportada para a Alemanha nazista. Entretanto, muito foi obtido de informação oral, porque Prestes, assim como outros contemporâneos, ainda estava vivo na época. "Então se pôde remontar a história, com detalhes. Por exemplo, sabemos qual avião trouxe prestes do Uruguai, em que data foi, onde ele desceu. E também o navio em que Olga foi para a Alemanha e quando foi deportada".



Todo dia



"Na Assembleia se faz história todo dia. Quem gosta desta Casa como eu, como se fosse a nossa casa, sabe que o compromisso com este Poder é importante, porque pertence a todos nós. Nestes 30 anos passei por vários órgãos administrativos da Assembleia, vi os personagens que passaram por aqui e conheci outros tantos pesquisando: seis presidentes da República passaram por aqui. O primeiro presidente civil eleito pelo voto, Prudente de Morais, foi deputado paulista". Divulgar essa história paulista que poucos conhecem também é uma função do departamento que Serginho dirige.

Serginho informa que recentemente foi levantada a biografia de todos os senadores paulistas da República Velha (na época, o Poder Legislativo estadual era bicameral, com Senado e Câmara de Deputados), todos os governadores e todos os deputados federais dessa época. Isso já está disponível no Portal da Assembleia, para internautas estudantes, pesquisadores e curiosos por saber mais sobre o Estado de São Paulo. Foi um trabalho difícil, porque se tinha o registro formal, mas não havia elementos sobre o parlamentar e seu trabalho no Parlamento. "Temos levantamento de todos os governadores de São Paulo desde Martim Afonso de Souza, com fotos e ilustrações a partir de 1891, quando já era a Assembleia Estadual".

Já está em preparação um artigo sobre os 80 anos da revolução de 32 para o Diário da Assembleia: "Não pode passar em branco". Não mesmo. É preciso lembrar sempre por que a sede da Assembleia se chama Palácio 9 de Julho, a avenida se chama 23 de Maio, o que é o MMDC, dados da história paulista que o tempo e a correria da vida diária vão apagando, mas que Serginho não deixa esquecer.

Com seu talento reconhecido em reportagem da Folha de S. Paulo, ele quer publicar ainda este ano a biografia de todos os senadores estaduais paulistas, na internet e em volume para ser distribuído a órgãos públicos e universidades. Também está nos planos um volume de biografias dos deputados do Império, e dos parlamentares estaduais a partir de 1947.

A TV Brasil já entrou em contato com Serginho para trabalhar numa reportagem sobre os 80 anos do voto feminino no Brasil. "Fico contente de saber que nosso trabalho aqui está dando resultados".

alesp