Opinião - Quem é que vai pagar por isso?


10/11/2011 09:41

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A pergunta acima me foi feita por uma passageira que todas as manhãs enfrenta filas para pegar o trólebus no terminal Piraporinha e depois um ônibus lotado para chegar ao trabalho. O mesmo sacrifício se repete no retorno para casa.

É que ela descobriu que a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) não pretende renovar os contratos anuais de prestação de serviços de integração gratuita entre trólebus e ônibus municipal de Diadema e o terminal São Mateus, que acontece desde a década de 1990.

A empresa já fez um acordo com a prefeitura de São Paulo e agora quer que a prefeitura de Diadema cobre dos usuários a tarifa integral de R$ 2,90 ou uma sobretaxa de R$ 1,00 entre o embarque e o desembarque dos veículos municipais e intermunicipais.

É isso mesmo. A Região Metropolitana de São Paulo, da qual o nosso ABCD faz parte, já está atolada em problemas, um deles o da mobilidade urbana. Não é no mínimo absurdo que, em vez de facilitar a vida dos que precisam do transporte público, o governo do Estado nos imponha mais essa dificuldade? Não basta o trânsito caótico, as horas e horas que perdemos em monumentais congestionamentos?

A integração entre os ônibus e trólebus dos terminais Piraporinha, Diadema e São Mateus era uma possibilidade de melhoria nesse caos. Afinal, uma pessoa podia pegar o transporte público em Diadema e ir até São Bernardo, Santo André ou São Paulo pagando uma passagem só. Para o trabalhador que mora em São Mateus e trabalha em Santo André era um pouco mais de qualidade de vida. E eu conheço muita gente que deixou de usar o carro para ir trabalhar depois que criaram a integração.

Mas parece que o governador Geraldo Alckmin e a EMTU não estão muito preocupados com isso. Querem simplesmente repassar o custo da manutenção do sistema elétrico do Corredor ABD, que liga São Mateus, passa pelo ABCD e vai até o Jabaquara. A conta não fecha e nós é que temos que pagar? Mas como não fecha se a integração já existia antes, quando boa parte do sistema trabalhava com ônibus a diesel, que é muito mais caro?

Essa pretensão do governador Geraldo Alckmin é um retrocesso à conquista da integração, é jogar areia nos olhos de quem precisa dos transportes públicos, uma afronta ao bom senso.

Na verdade, acredito que é resultado da maneira do Partido da Social Democracia, o PSDB, de tratar as pessoas, como se o Estado não tivesse obrigação nenhuma com elas, tirando o corpo fora. Uma vergonha! Transporte público é obrigação do governo, sim. E deve ser acessível a todos e de qualidade.

Como ficaremos? Quem hoje utiliza os ônibus municipais e desembarca nos terminais de Diadema e Piraporinha e, depois, uma das linhas intermunicipais e trólebus paga apenas uma tarifa, de R$ 2,80 ou R$ 5,70, para ir e voltar.

Com o fim da integração gratuita, e se for cobrado o tal R$ 1,00 na ida e na volta, o custo chegará a R$ 7,70. Mas pode ser ainda pior, se for cobrada a passagem integral. Ir e voltar do trabalho poderá custar a "bagatela" de R$ 11,40! Simplesmente o dobro do que custa hoje para ir e voltar. É como o povo diz: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

É por isso que vamos propor uma emenda ao orçamento de R$ 10 milhões para que a Secretaria dos Transportes possa garantir que a EMTU tenha recursos para custear o sistema elétrico do corredor.

Por fim, respondo a passageira a quem me referi no início deste texto: se nada fizermos, se a população não se mobilizar, nós todos é que vamos pagar por isso!



*Ana do Carmo é deputada pelo PT.

alesp