Opinião - São Paulo começa a conjugar o verbo "doular"


16/12/2011 13:00

Compartilhar:


A partir deste ano, o Estado de São Paulo passa a dedicar o 18 de dezembro ao Dia Estadual da Doula, uma comemoração reservada no calendário oficial que homenageia mulheres que estão ajudando a resgatar, de forma responsável e tranquila, o parto natural. Uma homenagem a estas mulheres que acompanham a gestante em todos os momentos preparando não só a futura mãe, mas a família para receber seu novo membro.

Mais que uma data comemorativa, esta iniciativa que partiu do nosso mandato na Assembleia Legislativa e resultou na Lei 14.586, de outubro deste ano, contribui para um objetivo maior: incentivar as doulas que atuam no nosso Estado a continuarem nesta linda caminhada e divulgar este trabalho ofertando-lhes reconhecimento e credibilidade.

A doula é por origem uma estimuladora do parto natural, situação que a coloca como aliada da saúde pública tendo em vista que os governos têm tentado reduzir o número de cesáreas no país. Infelizmente nossas gestantes têm se colocado como coadjuvantes, passando para o médico toda a responsabilidade do nascimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta como aceitável um índice de 15% dos nascimentos por meio de cesáreas. No Brasil, dados do Ministério da Saúde de 2008 mostram que 43% dos nascimentos são feitos por meio deste método.

A cesariana é uma aliada da mulher, quando bem utilizada, ou seja, quando há riscos para a gestante ou para o bebê. Mas não devemos esquecer que este é um procedimento cirúrgico. São muitos os bebês que têm nascido com problemas respiratórios e de baixo peso por terem tido uma idade gestacional superestimada, nascendo antes do tempo.

Recente matéria de um jornal de grande circulação constatou que as cesáreas programadas têm resultado em bebês mais leves. Em 2.010, o índice de bebês nascidos com menos de 2,5 Kg foi de 8,4%, chegando a 9,5% nos estados mais ricos como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. Há uma década este índice era de 7,9%, salientando que a OMS recomenda menos de 5%.

Entre os motivos que colocam o Brasil com um alto índice de cesáreas ressalte-se o medo da gestante, a falta de informação, o tempo e a remuneração médica. A falta de estrutura em hospitais também pode ser um fator que impede a multiplicação dos partos naturais, mas que em nada impede o já conhecido parto normal.

O fato, comprovado cientificamente, é que parturiente e bebê têm vantagens com o parto natural. Nele, a mãe passa de coadjuvante para protagonista. Quanto menor a interferência médica, melhor ela estará preparada para que seu corpo e seus hormônios cuidem e tudo ocorra dentro do tempo certo. O bebê estará pronto para chegar, seus pulmões estarão desenvolvidos o suficiente, assim como todas as outras funções.

A doula é um agente de resgate do parto tradicional e da gestação. O pré-natal é importante, assim como as consultas periódicas, mas é ela, a doula quem pode lidar com a parte emocional da gestante, os medos, as ansiedades.

"Doulando", ela é capaz de suprir uma carência antes preenchida pela mãe, avós, tias, amigas e vizinhas. No mundo contemporâneo, da pressa, mulheres que antes poderiam se ajudar, hoje já não se sentem preparadas para ouvir e aconselhar as futuras mamães. Elas também têm dúvidas e muitas tiveram seus filhos por cesariana.

Além de acompanhar a gestação e o parto e de ser uma aliada do médico, a doula está preparada para o pós-parto, com o incentivo à amamentação e os demais cuidados que o recém-nascido precisa. Assim, a gestante que tem a oportunidade de ter ao seu lado uma doula tem todas as condições de vivenciar sua gestação e seu parto em plenitude.

O Dia Estadual da Doula é mais um passo na trajetória de uma categoria que surgiu para apoiar a mulher, aliar-se a saúde pública para a redução do número de cesáreas, criar mães mais responsáveis e bebês mais saudáveis.

Espero que em breve não só o Estado de São Paulo, mas o Brasil esteja conjugando um verbo novo, cheio de significado, de dedicação e amor. Que todos nós possamos conhecer e conjugar o verbo "doular".



*Ana Perugini é deputada estadual e coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Mulher

alesp