Evento discute participação da mulher na ciência e na tecnologia

Dados informam que em 2003 houve um aumento de 12,8% de mulheres universitárias
10/03/2005 13:52

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"É preciso que haja políticas públicas apropriadas para que as meninas desenvolvam suas habilidades na escolha de suas carreiras, rompendo com os papéis sociais pré-estabelecidos, desde a infância, inclusive com a divisão social do trabalho nas famílias, quebrando as resistências sociais", asseverou a professora titular da USP e coordenadora do Núcleo de Estudos da Mulher e de Gênero (Nemge), Eva Blay, no debate sobre o papel da mulher na ciência e na tecnologia, ocorrido na Assembléia Legislativa nesta quinta-feira, 10/3.

Segundo dados trazidos pela professora, em 2003 houve um aumento de 12,8% de mulheres universitárias. Entretanto, o aumento se deu em cursos como serviço social, orientação pedagógica, nutrição, secretariado e fonoaudiologia. Na avaliação de Blay, "cursos voltados para áreas que ensinam a cuidar e a ensinar, muito próximos do que a sociedade espera das mulheres".

Para ela, as mudanças estão se processando, apesar de lentamente. "Políticas públicas podem acelerar as mudanças. O Brasil desperdiça inteligências, quando exclui mulheres, negros e pessoas com necessidades especiais. Temos que criar mecanismos de inclusão", propôs.

A coordenadora do Departamento de Políticas Científicas e Tecnológicas da Unicamp e do Núcleo de Estudos da Mulher, Maria Conceição da Costa, chamou a atenção para uma pesquisa em andamento que procura indicar a participação das mulheres na ciência e tecnologia no Brasil e em São Paulo. Segundo ela, trabalhos sobre os indicadores científicos de gênero não foram implementados para políticas de ciência e tecnologia, sendo necessário um maior engajamento em discussões internacionais que respondam por que a participação da mulher nessas áreas é tão lenta.

"A mudança é cultural, está nas mentalidades e é um processo, sendo necessária a implementação de políticas pró-ativas, buscando a globalização de meios de maior inclusão tanto no que se refere ao gênero como também à raça", afirmou, citando como exemplo a proposta de abertura de creches nas universidades públicas que atendam não só os funcionários, mas também as alunas.

Opinião parlamentar

"Tenho notado que conceitos masculinos muito arraigados, especialmente daquilo que é típico do homem e da mulher, têm mudado", falou a deputada Rosmary Corrêa (PSDB), propondo como estratégia "a adoção de posturas que conquistem os homens, levando-os a uma mudança de mentalidade, sensibilizando-os para os problemas femininos".

"Parece-me que há um estímulo a partir da própria casa, reafirmada na escola, que acaba por excluir as meninas de aptidões ligadas à ciência e à tecnologia", advertiu a deputada Maria Lúcia Prandi (PT). Para ela, "é necessária uma mudança de mentalidade, sem, contudo, perceber que tudo isso é um processo que se realiza de forma lenta".

Segundo a deputada Célia Leão (PSDB), o que há é uma questão cultural. "Vamos procurar uma maneira de globalizar a inteligência e a evolução da humanidade, começando por cuidar da mulher desde sua chegada à escola, preparando-a para esse campo vasto da ciência e da tecnologia", ponderou.

"É preciso tirar da exclusão as mulheres negras, pobres, domésticas e analfabetas", falou a deputada Ana Martins (PCdoB), observando que "a universidade avançou do ponto de vista da ciência e pesquisa, mas não conseguiu incluir o cotidiano da população nesses avanços".

alesp