MÁRIO COVAS, A AGONIA DO GUERREIRO - OPINIÃO

Willians Rafael*
01/03/2001 19:30

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"Esperança é a capacidade de manter o ânimo em circunstâncias que sabemos serem desesperadoras" - Chesterton

A agonia do grande democrata Mário Covas é a agonia de São Paulo e do Brasil. Embora as forças das minhas preces, que associo às de todos os paulistas e brasileiros, estejam servindo para reforçar minha esperança de que mais uma vez o nosso governador superará o grave quadro físico de sua doença, sua luta pela vida já justifica todas as homenagens que a ele possam - e devem -ser prestadas.

Desde sempre ficou patente que a maior luta do governador não é simplesmente pela vida, mas é pelo seu nunca negado e incontestável zelo por São Paulo, por sua gente e pelo propósito que sempre pautou sua história de homem público, o de servir seu semelhante, o de empregar o poder para distribuir justiça.

Pouca gente terá a oportunidade de inscrever seu nome na história de São Paulo e do Brasil com as dimensões e com a profundidade que o destino concedeu a Mário Covas, sobretudo pelas duas magníficas administrações que realizou a frente do governo paulista, modernizadoras, moralizadoras, visionárias, compatíveis com a grandeza da gente paulista. Mas também pela estatura de brasileiro que ficará para a história, a de um engenheiro da democracia, que nunca arredou pé de sua coerência, não arreglou com a ditadura nem compactuou com qualquer espécie de totalitarismo mesmo quando ameaçado pela cassação, que afinal veio mas que ele preferiu para não negociar princípios e nem a representação popular que recebeu e que sempre honrou.

Estas já seriam razões de sobejo para o reconhecimento que a nacionalidade lhe deveria, se já não as tivesse prestado largamente, seja reconduzindo-o a cena política apenas no limiar da normalidade democrática, que é onde ele gosta de operar, seja lhe dedicando a maior votação que um senador da República jamais aspirou ou sendo reconduzido ao governo de São Paulo mesmo depois de uma primeira administração em que praticamente teve que reconstruir o estado.

Desafios todos sobrançados com um destemor e uma coragem típicos de quem está na terra com uma missão específica, maior que a própria existência terrena e que dela não recua nem mesmo à vista de insidiosos males, como o que acomete o paulista Mário Covas.

Nós todos já sabemos que ele deu sua parcela de contribuição a São Paulo e ao Brasil com sobras. Ele, por força de sua peculiar personalidade e senso do dever, é que acha que não. Por isso, talvez, agoniza e nós agonizamos juntos, os homens de bem com os quais ele gosta de conviver e a própria democracia, que perde por força da finitude da vida ou da redução da capacidade de servir, um grande guerreiro, um exemplo a ser seguido. Mantemos, inobstante, a esperança na vida e o ânimo, mesmo sabendo que as circunstâncias são desesperadoras, como nos ensinou Chesterton.

*Willians Rafael é advogado, presidente das ONGs Casa para Todos e Casa de Solidariedade Neyde Alves da Silva e deputado estadual em São Paulo pelo PTB.

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