O TERCEIRO MANDATO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
16/02/2001 16:55

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A eleição dos presidentes da Câmara e do Senado é parte do processo de busca de um novo mandato para o grupo que, por duas vezes, elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Levar a sério as bravatas de Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, imaginando que, mesmo de longe, trata-se de buscar alternativas eticamente corretas e coladas nas aspirações do Brasil real, é jogo que vende jornal mas que não deve turvar a visão de quem vive e pensa a política de maneira séria e responsável.

Nos dois primeiros mandatos, o que se viu foi a construção de uma hegemonia com forte influência do PFL. O eixo fundamental foi a estabilidade econômica; a ferramenta básica utilizada foi a captação de capital externo por meio de uma reforma patrimonial do Estado brasileiro, simbolizada pelas privatizações.

Agora, está cada vez mais explícito que não basta a estabilidade econômica, simbolizada pelo Ministro da Fazenda Pedro Malan, e que um novo mandato desse grupo só será possível com um discurso e práticas diferenciadas. A variável social deverá ser decisiva na eleição do próximo presidente da República e setores importantes da base governista têm consciência disso.

Trata-se, pois, de sinalizar para os eleitores uma mudança de rumo e não é à toa que o programa bolsa-escola foi lançado com todo o foguetório possível.

Essa sinalização passa necessariamente por um redimensionamento da importância do PFL na base aliada. Daí o namoro com o PMDB e o isolamento de ACM e do PFL, com o PSDB demonstrando uma vontade de reconstituir sua proposta original, social democrata. No entanto, esse rearranjo no bloco governista representa mais uma correção de rumo do que um questionamento para valer do modelo econômico.

É saudável o isolamento do PFL e ACM nesse processo. Mas é preciso ressalvar que eles não são carta fora do baralho no jogo sucessório. O que ocorre é que, tal como na primeira e segunda eleição de FHC, eles estão de volta ao colo (ou sob o controle) do próprio.

Não tenhamos ilusões. Esse imbróglio favorece o presidente Fernando Henrique que volta ao comando do processo sucessório, podendo mais do que nunca manipular os instrumentos de poder para amoldar a situação da forma que melhor lhe convier. E ele fará isso recompondo com o PFL, acenando com a volta a um modus vivendi que sempre deu resultados.

Com o poder de dar as cartas, FHC deverá tentar um sucessor que seja sua imagem refletida no espelho. O desafio é saber quem, senão o próprio, conseguirá vestir o figurino.

Cabe às oposições, que na disputa no Congresso não souberam tirar proveito das contradições internas do bloco governista, acompanhar com atenção os movimentos do governo e consolidar uma aliança que permita, em 2002, a vitória de um projeto realmente alternativo ao que aí está. Um projeto que leve em conta a estabilidade, mas que tenha como princípios a retomada do desenvolvimento e a diminuição das graves desigualdades sociais e regionais existentes no país.

alesp