Quem tem medo do Zé?

Opinião
23/06/2005 19:51

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Pois é. O PT não se emenda jamais. Perde o pêlo mas continua cultivando o vício com a arrogância genética que corre em suas veias. Que em sua despedida do cargo de ministro chefe da Casa Civil, o deputado José Dirceu (PT-SP) tenha se valido de expressões para lá de surradas " do tipo, "mãos limpas" "cabeça erguida" " era algo compreensível, para uma pessoa como ele e para alguém que se encontra na situação como a que ele, José Dirceu, se encontra: de absoluto descrédito. Diria o quê o ex-ministro, o homem que sempre se gabou de controlar os mais de vinte mil cargos de confiança que fazem a perdição do governo de Lula? Que para consolidar um projeto de poder, o dele e de seu grupo político, vale tudo e mais um pouco?

Também era previsível que o ex-ministro tenha ainda, com o inservível apoio de muitos de seus pares, enveredado pelo caminho tortuoso de uma suposta mobilização geral em torno da sua própria história, da história de seu partido e da história dessas cândidas figuras que estão encarregadas de dirigir o PT. Diante de um problema, historicamente, ou o PT saía às ruas, ou criava uma comissão de estudos, ou pedia uma CPI. Mas isso era nos tempos em que era contra tudo o que estava aí. Agora, pelo visto, boa parte dele continua a favor das bravatas de sempre e também de muita coisa errada que não deveria mais estar por aqui, mas que, pelo visto, foi incentivada no limite.

A ignorância não é o único bem fartamente distribuído no mundo. A acompanhá-lo quase sempre está o desatino, o completo descolamento da realidade. Ou será mero cinismo dos próceres petistas a afirmação de que o governo federal é vítima de uma conspiração, de um movimento golpista articulado pelo governo republicano de George Bush em sintonia fina com o PSDB e o PFL? Quem está a desmoralizar o PT, disso todo mundo sabe, são os seus próprios quadros e práticas.

Hoje, a partir da leitura do noticiário, fica muito claro a todos que as razões que levaram o partido a se posicionar contra toda e qualquer privatização nada tinha de ideologia. Quanto maior a máquina, mais cargos para serem ocupados pela militância do dízimo, mais verbas para bancar os charutos da cúpula. Quanto maior a máquina, maior a possibilidade de fazer negócios " em nome, claro, de um inexistente projeto salvacionista. A leitura do noticiário também nos oferece a chance de descobrir porque, nas diversas gestões petistas, os gastos publicitários crescem tanto. Não há movimento algum, como querem fazer crer os réus de hoje, para desestabilizar o "governo de esquerda do PT". O que há são denúncias e indícios fortes, fortíssimos, de bandalheiras patrocinadas por gente que muda de roupa, quando não de cara, ao sabor de suas conveniências.

Bem oportuna, a definição do senador tucano Arthur Virgílio (AM), para quem José Dirceu " talvez movido pelo delírio que Delúbio Soares lhe proporcionou ao longo do tempo " se sente uma espécie de "El Cid". Ocorre que os tempos são outros. É certo que o ex-ministro, ao menos politicamente, parece ferido de morte. De nada vai adiantar, amarrá-lo ao cavalo para amedrontar os mouros. A exemplo dos tempos, os mouros são outros. E o chefe deles parece ter a seu dispor um considerável arsenal de flechas.

*Milton Flávio (PSDB) é professor de Urologia da Unesp (Botucatu) e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo.

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