BURACOS DE COVAS - OPINIÃO

Jilmar Tatto*
21/06/2000 19:15

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Nada a ver com a baixaria do governador em Sorocaba, dia 15 de junho último, quando um grupo de estudantes virou-lhe as costas e ele afirmou que "cada um ouve pelo buraco que lhe interessa". Lamentável para alguém com a responsabilidade de governar este Estado. Covas, que se acha acima do bem e do mal, vem revelando intolerância, incapacidade para o diálogo e total desrespeito com qualquer manifestação de oposição ao seu medíocre governo.

Afinal, o que vem transtornando tanto o governador, a ponto de, como um moleque de rua, chamar opositores e manifestantes para o confronto físico? Como não temos a resposta, resta-nos avaliar algumas possibilidades.

Covas, que enfiou goela abaixo do tucanato uma candidatura a prefeito da Capital paulista, faz e acontece para tentar melhorar o pífio índice de 3% das intenções de voto em seu candidato. Vale tudo: ocupar espaço na mídia, antecipar inaugurações, atacar gratuitamente os adversários. E nada. O candidato do governador continua estável e deverá continuar até outubro.

Na segurança, a propaganda oficial informa que houve mais investimentos. O problema é que, a não ser os carros da PM que ficam parados nos cruzamentos da região central, num claro sinal de exposição, na periferia a situação é cada vez pior. A violência nas ruas e nas escolas estaduais amedronta professores e afasta alunos. O tráfico e o crime comandam como bem entendem.

São Paulo tem, hoje, cerca de três milhões de famílias que sofrem com a falta d'água. Em 1998, ano da sua reeleição, o governador gastou cerca de 800 mil reais em propaganda para informar que não haveria mais rodízio no fornecimento de água. Em 1999, a farsa veio à tona: Covas paralisou obras importantes piorando os serviços da Sabesp. É fácil colocar a culpa em São Pedro pela falta de chuvas. Mas, com certeza, não chegaríamos a essa situação se pelo menos parte das 546 obras, que estão paradas, fossem concluídas nos prazos.

Em mais um lance de puro marketing, o governador anda espalhando placas e mais placas pela Capital paulista, anunciando a construção de casas populares. Na zona sul da cidade, por exemplo, a propaganda foi afixada, mas as casas não existem.

A forma como o governador tratou a greve do funcionalismo é outro indicativo do buraco que há em seu governo. Prevaleceu o velho método malufista de tentar colocar a população contra professores e profissionais do setor de saúde, culpar a oposição pela greve e ainda elogiar a violência indiscriminada da PM contra grevistas, como ocorreu na avenida Paulista em 18 de maio passado.

Ainda sobre ensino público, também os professores das universidades públicas entraram em greve, com total apoio dos alunos. Foram mais de 40 dias de paralisação e o governador manteve sua postura intransigente de não negociar. Não surpreende, já que na educação este governo age totalmente fora da lei, deixa de cumprir o que determina a Constituição Estadual quanto ao mínimo necessário de investimentos, como constatou a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que investigou a questão nos últimos meses.

Em Sorocaba, além da baixaria, Covas teria dito a um dos manifestantes: "Você não tem idéia das coisas, menino". E não é só ele, governador. Toda a população paulista precisa saber, o senhor tem que esclarecer os buracos existentes em seu governo, redirecionar sua atuação, governar para a maioria da população, deixar de lado tanta arrogância e submissão às imposições de Brasília, ditadas pelo seu chefe, FHC. Essas medidas, além de fazer bem para São Paulo, poderão contribuir para melhorar seu péssimo humor, acalmá-lo e amenizar sua vontade de brigar.



*Jilmar Tatto, é deputado estadual e vice presidente do PT.

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