Referendo: o dia "D"esarmamento

Opinião
06/10/2005 18:48

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A sociedade brasileira anda atordoada com as constantes denúncias de desmandos, corrupção e propinas que assolam a política e mais recentemente no meio esportivo. Entretanto, não podemos perder de vista outros fatos que marcam nosso dia-a-dia, como o debate para definir uma das políticas de grande importância nesse país: o desarmamento. Sabemos que desde que foi lançado, o programa para desarmar a população arrecadou cerca de 500 mil armas, o que não chega a 5% do total existente no Brasil. Também sabemos que a cada ano continuam ocorrendo cerca de 40 mil mortes por disparos, e as estatísticas apontam que os casos acontecem principalmente no âmbito da família e da vizinhança. Por isso, quanto menos armas disponíveis, melhor para a defesa e preservação da vida.

No próximo dia 23, mais de 122 milhões de brasileiros vão decidir se o comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil. O "sim" concorda com a proibição e o "não" permite a comercialização. Devemos ficar atentos à escolha e optar com a consciência de que estamos decidindo sobre vidas. Portanto, primeiramente temos de assumir uma nova postura diante do que gera a violência e fazer uma auto-análise para responder: esse referendo salvaguardará a quem?

Sabemos que os bandidos não vão deixar de agir porque uma lei proíbe a comercialização e o porte de armas. Tão igualmente sabemos que uma arma dá a sensação de segurança para aquele pequeno sitiante que não pode manter seguranças em sua propriedade. Tampouco ignoramos que essa mesma arma poderá ser uma das que cairá em mãos desavisadas, de uma criança, de um amigo, e num momento de desatenção, até "de brincadeira", faça mais uma vítima fatal para somar aos 5% de mortes decorrentes por disparos.

Dia 23 de outubro de 2005: ainda uma incógnita para as futuras estatísticas. Desejamos que esse dia seja um marco para o desarmamento, muito mais do que do comércio das armas e munições, mas o desarmamento das desigualdades sociais. Para isso, espera-se que os meios de comunicação também dêem igual atenção para ações do bem, aquelas que prezam pela solidariedade e pela comunhão. Afinal, o que vemos e assistimos são explosões de notícias sobre assaltos, crimes, mortes, como se vivêssemos uma guerra civil cotidiana.

Mais que proibir "legalmente" o comércio de armas precisamos coibir as situações criminosas e contingências que levam a essa desigualdade e fomentam o crime: concentração de terra e renda, dificuldade do primeiro emprego e acesso às universidades públicas, precariedade da saúde, transportes, esportes, cultura, etc. As propagandas eleitorais para "orientar" o cidadão a votar no dia 23 não deveriam ser temporárias, mas ações cotidianas e espontâneas das redes de comunicação e institucionais para divulgar o bem e aglutinar voluntários para programas que combatam a desigualdade. Enfim, precisamos dizer "não" é à falta de vergonha para fazer desse país um país naturalmente desarmado e evitar a roleta social de quem com "espada fere, com espada será ferido".

www.padreafonso.com.br

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