Opinião - Passada a eleição, acaba o pacote de bondades


13/12/2010 17:26

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Embora desgastado pelo uso excessivo, o termo "estelionato eleitoral" tem sido repetido com frequência nos últimos dias diante do quadro que se delineia para os próximos meses na economia brasileira. Depois de estimular o consumo por meio do crédito fácil e colocar na gaveta medidas impopulares para não atrapalhar a vitória da candidata Dilma Rousseff, o governo Lula começa a adotar providências para tentar reduzir os estragos da bomba-relógio financeira que, conforme alertam especialistas, deverá explodir ainda no primeiro semestre de 2011.

As primeiras ações que sinalizam para o fechamento da torneira que despejou dinheiro à vontade para boa parte da população foram anunciadas pelo Banco Central na semana passada. O fim do pacote de bondades prevê o aumento da exigência de capital nas operações de empréstimos para pessoas físicas em prazos superiores a dois anos e também no financiamento ou leasing de veículos, além da ampliação dos depósitos compulsórios das instituições bancárias, o que deverá retirar aproximadamente R$ 61 bilhões do mercado. Comprar, por exemplo, carro sem entrada e com prestações a perder de vista ficará bem mais difícil.

Um dos primeiros a se manifestar contra a irres­ponsabilidade das autoridades federais foi o governador de São Paulo, Alberto Goldman. Sem rodeios, Goldman declarou que antes das eleições foram dadas "facilidades de todas as ordens possíveis e imagináveis". E completou: "aqueles que conhecem um pouquinho de economia sabiam que o que se estava fazendo era artificial e tinha como finalidade garantir a vitória da candidata oficial". Segundo ele, somente no mês passado os paulistas amargaram um reajuste de 4,6% na cesta básica.

Outros indicadores reforçam a ideia de que, com a fatura liquidada a favor de Dilma e do PT, o sonho do consumo desregrado começa a virar pesadelo. Esta semana, pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade mostrou que as taxas de juros das operações de crédito voltaram a subir em novembro, após quatro meses consecutivos em queda. E a tendência é de que a situação piore ainda mais.

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também cresceu no mês passado e bateu em 0,83%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa alta é a maior mensal desde abril de 2005 e a mais intensa para meses de novembro desde 2002. A caderneta de poupança, por sua vez, teve o pior desempenho dos últimos sete anos e meio, com uma remuneração que não passou de 0,535%.

Um dos efeitos perversos desse panorama sombrio é a falta de condições que muitas pessoas enfrentam na hora de honrar os compromissos assumidos na compra parcelada de bens e nos empréstimos bancários. Isso fica evidente em notícias como a divulgada recentemente pela Associação Comercial e Industrial de Rio Claro sobre o número de incluídos no Serviço de Proteção ao Crédito. De outubro para novembro, registrou-se um salto de 59,55% entre os que tiveram os nomes negativados pelo temível SPC.

O momento, portanto, é de preocupação e cautela. Quem ainda possui alguma reserva financeira ou não comprometeu o dinheiro do décimo terceiro salário deve pensar duas vezes antes de gastar neste fim de ano. O ideal é quitar eventuais dívidas e evitar novos financiamentos, pois o futuro imediato da economia de nosso país não é nada animador.



*Aldo Demarchi é deputado estadual pelo DEM e 2º secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa.



"A inflação medida pelo IPCA bateu em 0,83 no mês passado. Essa alta é a maior mensal desde abril de 2005"

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