Secretário prestou esclarecimentos sobre o trabalho da Pasta de Segurança e expôs as diretrizes que pretende dar a sua atuaçãoDA REDAÇÃOPela primeira vez desde que assumiu o cargo, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, compareceu à Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira, 6/3, para prestar esclarecimentos sobre o trabalho desenvolvido pela Pasta. Em mais de três horas de debate, ele respondeu a questionamentos de deputados e delineou as diretrizes que pretende dar a sua atuação. Um dos temas levantados pelos parlamentares foi o funcionamento do programa de acompanhamento de policiais militares que se envolvem em ocorrências de alto risco, o Proar, cuja extinção foi sugerida pelos deputados Afanasio Jazadji (PFL) e Conte Lopes (PPB). "O Proar é incompatível com os dias que estamos vivendo", disse Jazadji. Para Lopes, "se o projeto acabar os policiais vão poder agir". De acordo com o secretário, a questão está sendo estudada, através de depoimentos de familiares dos policias atingidos, e existem muitos argumentos contra e a favor do projeto. "Entre as vantagens do Proar está o fato de que ele pode ajudar o policial submetido a extrema tensão a não se tornar excessivamente agressivo", afirmou ele.Audiências via internetOutro assunto recorrente foi o da superlotação dos distritos policiais e das penitenciárias. Depois de ressaltar que o problema não é responsabilidade de sua Pasta, Saulo de Castro concordou com a presidente da comissão, deputada Rosmary Corrêa (PMDB), e com a deputada Edir Sales (PL), que defenderam mais prudência na desativação do Carandiru enquanto as delegacias ainda têm excesso de presos. "O processo de desativação da Casa de Detenção deve guiar-se pelo cronograma de implantação dos Centros de Detenção Provisória", disse o secretário.Questionado a respeito dos riscos dos deslocamentos de presos que devem comparecer a audiências e dos grandes custos gerados pela escolta a esses detentos, Saulo de Castro advogou a realização de audiências em sistema de videoconferência: "Isso resolverá os problemas de custo e de logística." Segundo ele, o primeiro teste desse sistema, envolvendo 11 cidades, já foi feito com sucesso a partir de São José dos Campos. Enquanto as videoconferências ainda não funcionam em todo o Estado, o secretário sugere que os juizes realizem as audiências nas unidades prisionais. "Isso reduziria em pelo menos um terço o número de escoltas necessárias", garantiu.O petista Vanderlei Siraque indagou se o aumento do número de mortos em conflitos com a polícia não seria um indício de que o governo teria abandonado a linha de defesa dos direitos humanos. O secretário negou e declarou que, no episódio no qual morreram 12 presos, em Sorocaba, a polícia atuou com "total lisura". Segundo ele, há provas de que os suspeitos atiraram antes de serem mortos. Siraque também perguntou qual a opinião do secretário sobre uma eventual separação do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar. "Os bombeiros estão bem onde estão", disse Saulo de Castro.Melhor remuneraçãoO líder do PT na Assembléia, deputado Carlinhos de Almeida, pediu mais transparência na divulgação dos dados relativos à segurança pública e criticou a falta de verbas para a Polícia Técnico-Científica. Em relação à primeira questão, o secretário afirmou que só os dados referentes a seqüestros serão mantidos em sigilo. Quanto aos recursos destinados à Polícia Técnico-Científica, segundo ele, deverão superar os R$ 170 milhões até o fim do ano.Outra petista a se manifestar foi a deputada Mariângela Duarte. Entre outras coisas, ela indagou se a desativação iminente do presídio Dacar-10, de Praia Grande, não acarretará a superlotação dos distritos policiais da Baixada Santista. De acordo com o secretário, as 800 vagas abertas no Centro de Detenção Provisória de São Vicente, inaugurado no dia 1º de março, deverá evitar o problema.Vários deputados, entre os quais Edson Ferrarini (PTB) e Wilson Morais (PSDB), defenderam melhor remuneração para os policiais. O secretário disse que é favorável ao pagamento diferenciado àqueles mais expostos a riscos, com base em indicadores de eficiência e de qualidade. Petterson Prado, do PPS, lembrou que tramita na Casa projeto de sua autoria que torna obrigatória, a cada três meses, a publicação em Diário Oficial dos índices de criminalidade no Estado e indagou quais são os critérios para a distribuição dos policiais nos distritos. Saulo de Castro prometeu enviar posteriormente essa informação ao deputado.O deputado Emídio de Souza (PT) apresentou dados sobre o efetivo de policiais em cidades de alto índice de violência. Segundo ele, Taboão da Serra possui um policial para cada 2 mil habitantes; Embu um policial para 1.964 habitantes; Jandira um policial para 2.040 habitantes; Osasco um policial por 1.230 habitantes; e a Capital um policial para 500 habitantes. "Como são estabelecidos os critérios de distribuição do efetivo policial?" Emídio ainda perguntou sobre a saúde dos presos e a promoção por atividade para policiais. "Os critérios normalmente atendem itens socioeconômicos e de índices de criminalidade. Com relação à saúde dos presos, já tenho estudado a possibilidade de implementar uma forma de atendimento adequada. Já no que se refere à promoção, o tema ainda não foi pautado em minha gestão", afirmou o secretário.Duarte Nogueira, líder do PSDB, levantou a questão dos seqüestros e Saulo de Castro disse que o número desse tipo de crime caiu 60%. O deputado do PSB, Rafael Silva, lembrou seu projeto sobre o ''bico'' fardado de policiais. "O policial deixa de arriscar-se à paisana e pode aumentar seu rendimento com a participação de empresas privadas." O secretário disse que desconhece o projeto, mas, a princípio, não se manifesta contrário.ColetivaApós a reunião, o secretário concedeu uma coletiva à imprensa. Ele afirmou que todos os itens e as metas de procedimento da polícia são reavaliados diariamente e que a polícia averigua todos os tipos de crimes. "Chacinas não têm tido repercussão na mídia, porém, a polícia obtém 93% de esclarecimento e 80% de condenação. Sei porque recebo relatórios diários." De acordo com Saulo, a integração das polícias Militar, Civil e Técnica tem sido fundamental para a redução da criminalidade. Sobre o serviço de inteligência, o secretário apenas disse que os integrantes são em número suficiente. Com relação à contribuição da Assembléia Legislativa, o secretário destacou que a Casa tem dado instrumentos para a Secretaria trabalhar melhor. "O Legislativo formou uma verdadeira frente anticrime."