GREVE DERRUBA MITOS - OPINIÃO

Maria Lúcia Prandi*
28/06/2000 16:25

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Mais uma vez, os educadores deram exemplo. Com a greve que corajosamente mantiveram por 44 dias, trouxeram para a pauta da sociedade as mazelas do ensino público no Estado de São Paulo.

No livro Ideologia e Educação, a socióloga Marilena Chauí oferece uma reflexão primorosa: "A regra da competência, somada ao mito da racionalidade, encarnada na burocracia, silencia o discurso da Educação, para que o poder fale sobre ela."

O contexto tem tudo a ver com a greve dos professores. Até então, só tínhamos o discurso do poder, o mascaramento dos números da evasão e da repetência, o discurso da racionalidade e da otimização de recursos. Na verdade, um discurso autoritário, baseado na ideologia de que o conhecimento não é para todos, mas para poucos privilegiados. Às camadas populares não é garantido o direito ao conhecimento, basta o feijão com arroz da escola fundamental, de qualidade cada vez pior, para impedir a barbárie.

O discurso do poder é desmascarado quando os professores colocam em discussão a progressão continuada, artifício de promoção automática dos alunos para atender interesses numéricos do FMI. Quando os professores pedem a realização de concursos públicos, mais uma vez o discurso do poder cai por terra. Que categoria sai às ruas para exigir a realização de concurso? Mais de 40% dos professores de Educação Fundamental I, Educação Básica e de 1.ª a 4.ª séries não são concursados, mas o governo Covas não abre concursos porque quer enfiar a municipalização goela abaixo.

Quando os professores discutem o número de alunos por sala de aula, escancaram a falsa qualidade. Quando apresentam para a sociedade as mudanças que estão sendo armadas no ensino médio, desnudam a face perversa da terceirização que está sendo armada.

Por trás da desculpa da fixação de parâmetros para o ensino médio está o confisco do saber, a redução do número de aulas, a eliminação pura e simples de disciplinas e de áreas de conhecimento. Desvirtuando a interdisciplinaridade, tira-se a especificidade de cada disciplina.

Tudo caiu por terra com a greve dos professores. A greve foi absolutamente vitoriosa em sua unidade. Há muitos anos não tínhamos um movimento com tantas entidades da Educação juntas, e que continuam seu plano de luta absolutamente unidas. APEOESP, Udemo, CPP, Apase, e Apampesp entraram juntas na greve e continuam a mobilização.

O plano educacional dos governos federal e estadual interessa ao G 7, e não à sociedade brasileira. É armação do FMI para aumentar a concentração de conhecimento, de renda e de poder.

Nossas universidades, apesar da excelente produção de conhecimento, ciência e tecnologia, também estão em crise de recursos, e isto precisa ser discutido pela sociedade. O financiamento da Educação, mais do que nunca, tem que ser pauta do Legislativo e de toda a sociedade.

Vamos desmascarar por vez, derrubar por terra o mito de que este país investe adequadamente em Educação. Não investe! O setor recebe menos de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Para termos Educação de qualidade, é preciso que os investimentos atinjam pelo menos 10% do PIB.

Insisto: quando temos uma crise na saúde, lamentavelmente perdemos vidas. A crise na Educação confisca o conhecimento e mata a cidadania.

Como parlamentar e como educadora da rede estadual de ensino, quero expressar meu profundo respeito e solidariedade a todos que continuam lutando por melhores condições de ensino na escola pública e por melhores condições de trabalho.

Parabéns aos educadores de todo o Estado, a todo o funcionalismo que luta pela sociedade e por condições dignas de atendimento à população pagadora de impostos.

*Maria Lúcia Prandi é deputada estadual, vice-líder da bancada do PT e presidente da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa.

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