Vitória parcial contra o PCC

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
30/12/2002 14:05

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Assim como o monstro enfrentado pelo herói Hércules na mitologia grega, o Primeiro Comando da Capital tem sete cabeças e não deve estar completamente desarticulado. Como deputado estadual, fui o pioneiro nas denúncias contra o então desconhecido PCC, uma facção criminosa que começava a dominar os presídios paulistas lançando até estatuto já em 1997. Naquele ano, levei adiante importantes investigações em nosso Estado, na qualidade de presidente da CPI encarregada pela Assembléia Legislativa de fazer um levantamento sobre a ação do crime organizado. Alertei o então secretário da Administração Penitenciária do governo Mário Covas, João Benedicto de Azevedo Marques, que menosprezou minha denúncia e disse estar tudo "sob controle". E deu no que deu: em quatro anos, inúmeros motins em cadeias provocaram centenas de mortes, algumas de modo extremamente cruel, e o Estado de São Paulo sofreu enormes prejuízos morais e materiais.

Felizmente, o governador Geraldo Alckmin, ao herdar o grave problema, em 2001, atentou para a necessidade de tomar providências. E foi o que ele fez. A partir daquele terrível 18 de fevereiro, quase dois anos atrás, em que os bandidos do PCC comandaram rebeliões simultâneas em quase 30 presídios paulistas, com ajuda de celular, houve reação.

Na época, fiz 18 sugestões ao governador Alckmin, entre as quais a de ampliar o número de presídios de segurança máxima, isolar os líderes do PCC, restringir as visitas aos presos e restituir às cadeias o regime de verdadeiras prisões, sem tolerância. Hoje, não há dúvidas de que Alckmin impôs significativas vitórias contra o PCC. Um dos símbolos

dessa reação do governo é o Presídio de Presidente Bernardes.

Pois bem, muita gente já ouviu falar na história de Hércules, o herói da mitologia grega, de mais de três mil anos atrás. Hércules tinha a missão de enfrentar 12 trabalhos, as missões quase impossíveis. Uma das 12 tarefas: derrotar a Hidra de Lerna, uma serpente de sete cabeças, que aterrorizava as pessoas. As sete cabeças teriam de ser cortadas de uma só vez, pois cada uma delas se recompunha ao ser decepada isoladamente. O incansável Hércules usou uma enorme espada e, com coragem e destreza, acabou com o monstro.

O PCC é uma Hidra e ainda existe, como procuro demonstrar. Um dos principais chefes dessa facção, o bandido José Márcio Felício, conhecido pela alcunha de Geleião, decidiu delatar às autoridades tudo o que sabia sobre o bando. Ele percebeu a possibilidade de ser beneficiado com uma condição especial na cadeia ou até com a antecipação de sua liberdade. Com essas denúncias, foi possível identificar 16 novos líderes do PCC. Por sua vez, mesmo na cadeia, alguns chefões do PCC juraram Geleião de morte. Além disso, o comando da polícia e do sistema prisional do Estado sabe que ainda estão em liberdade vários bandidos ligados ao PCC e novos líderes podem surgir, tal qual uma Hidra de Lerna.

Portanto, nesta virada de ano, podemos considerar como fato muito importante de 2002 o prosseguimento da reação do governo Alckmin contra bandidos que comandavam rebeliões nos presídios e chegavam a matar outros detentos com extrema crueldade. No entanto, estamos ainda longe de considerar que não existem mais ameaças. A reeleição de Alckmin significa um reconhecimento da população paulista a um trabalho que ainda tem de prosseguir. A violência e a criminalidade continuarão merecendo atenção redobrada.

Afanasio Jazadi é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

alesp