Nau dos Insensatos

Opinião
24/06/2005 18:59

Compartilhar:


Perdão, presidente. Pouco me importa sua origem e o fato de Vossa Excelência nem sempre usar gravatas, como acaba de dizer numa solenidade em Goiás. Não tenho preconceitos em relação a sua formação acadêmica, menos ainda em relação ao corte de seus ternos " todos, aliás, de excelente qualidade, como convém a um presidente que não governa, mas corre o mundo com o encanto típico de quem se lambuza.

O que me incomoda é essa soberba ridícula que o embala desde sempre. Aliás, essa é uma, apenas uma, das marcas que o caracterizam e também a muitos de seus pares: a arrogância sem limites, movida pela ignorância há anos cultivada pela ociosidade.

Perdão, presidente. Pelo menos até agora, não disponho de elementos " honestamente, torço para que não os venha a ter " que me levem a considerá-lo um sujeito imoral, corrupto. Mas não lhe reconheço portador de virtudes suficientes para que se considere (Santo Cristo!) "a maior autoridade ética e moral deste país".

Imagino que esta tenha sido mais uma de suas bravatas, talvez a maior delas, talvez não. O que está por vir ninguém sabe, não é mesmo? Hoje, o título de Excelência talvez ainda lhe baste. Amanhã, o de Santidade lhe parecerá pequeno. O que talvez explique o fato de seu governo ter-se transformado numa espécie de nau dos insensatos. Se havia alguma dúvida de quem era, de fato, o comandante, ela vai-se dissipando celeremente.

Em termos de moral e ética, não vejo porque Vossa Excelência deva se sentir melhor que, por exemplo, meu pai, de origem tão humilde quanto a sua. Nem porque eu tenha que, vá lá, considerá-lo superior à esmagadora maioria dos operários. Muito pelo contrário. Penso que muitos deles teriam aproveitado de forma mais adequada a vida mansa que o sindicalismo e o petismo lhe deram ao longo dos últimos trinta anos. Certamente, alguns se dariam ao trabalho de ler alguns livros. Ao menos isso.

Sei que Vossa Excelência age como fera acuada, muito embora ainda não tenha provado do veneno que sempre destilou. Se houve uma gente desonesta, sempre pronta a denegrir a imagem e a honra alheia, essa gente é a que o acompanha no Palácio do Planalto e na sede de seu partido. O que, por si só, já lhe subtrai a possibilidade de ser a maior autoridade "ética e moral deste país".

Também espero " até porque não dá para ter outras ilusões " que "o maior legado de seu governo" seja a possibilidade de lhe permitir continuar falando "de cabeça erguida". Ainda que o que se venha a ouvir continue a ser o mesmo de sempre: muitas bravatas, bobagens, inconseqüências. O tempo sempre passa. E, às vezes, ele carrega consigo reputações.

*Milton Flávio (PSDB) é professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

alesp