Seqüestros mudam a vida do Interior

Opinião
25/05/2005 17:24

Compartilhar:


Em apenas quatro meses e meio, de janeiro a maio, foram registrados 44 seqüestros no Estado de São Paulo. Esse número assustador contraria as informações divulgadas anteriormente pelo secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu, de que esse tipo de crime estava em queda. E mais: algumas regiões do Interior, como a de Campinas, têm tido dezenas de casos de seqüestros consumados e de ameaças, levando seus moradores a mudar os antigos hábitos de cidades pacatas.

No primeiro semestre do ano passado, houve 13 seqüestros no Interior. Já neste ano, o total chega a 15. De repente, casas passam a ter modernos sistemas de alarme e câmeras de TV. Os mais ricos tratam de contratar seguranças e preferem morar em condomínios fechados. As ameaças, porém, não atingem mais apenas os milionários: até pessoas da classe média são alvo de seqüestradores.

Como deputado estadual especializado em segurança pública, tenho alertado na Assembléia Legislativa, na TV, no rádio e nos jornais que o crime de seqüestro tornou-se um dos maiores males de nosso Estado. Alguns maus policiais tratam de manipular dados, mentindo sobre queda nos índices de criminalidade. A recente divulgação do balanço dos seqüestros prova que a população está submetida ao marketing da enganação, algo que, por sinal, também é feito em setores do governo federal. O povo é iludido!

Os seqüestros só acontecem porque os criminosos têm duas certezas: a de que a vítima está desarmada e a de que, caso sejam presos, gozarão do benefício da impunidade. Por conta dos tais protetores dos "direitos humanos", os dez seqüestradores do empresário Abílio Diniz tiveram suas penas reduzidas e saíram da cadeia bem antes do previsto, após uma greve de fome sob a estranha solidariedade de gente que hoje está no poder, em Brasília.

O atual ministro da Justiça já disse que, para reduzir o número de presos nas cadeias, é necessário acabar com penas rígidas estabelecidas para os chamados crimes hediondos, caso do seqüestro. Também foi no ninho da turma dos "direitos humanos" que ganhou forma o Estatuto do Desarmamento, responsável pela proibição de um cidadão de bem usar arma para se defender contra bandidos que o atacam.

Quem ganha com isso? Quem ganha são os próprios criminosos e aqueles contratados para proteger as vítimas em potencial. Ou seja: o grande lucro é das empresas de segurança, que colocam seus vigilantes diante de casas e empresas para proteger vidas e patrimônio em troca de muito dinheiro. A milionária Athina Onassis, herdeira do império Onassis, está morando em São Paulo, mas não dispensa a companhia de meia dúzia de corpulentos membros de uma empresa de segurança. As vítimas que não têm dinheiro não estão livres das ameaças. Gente de classe média é seqüestrada e enfrenta ameaças de todos os tipos por bandidos que exigem da família o pagamento de resgate.

Entre o fim do ano passado e os dias de hoje, cinco jogadores de futebol viveram intensamente o drama do seqüestro. As mães desses craques, mulheres de origem humilde, foram levadas por bandidos e torturadas. A notícia de que esses jogadores ganham altos salários ajuda a despertar a cobiça das quadrilhas de seqüestradores. Foi assim que os criminosos levaram as mães de Robinho, Rogério, Grafite, Luís Fabiano e Marinho. Três desses cinco casos ocorreram na região de Campinas, onde o neto de um rico comerciante e dirigente de futebol continua desaparecido, mais de um mês após ter sido seqüestrado. Os outros dois casos de mães seqüestradas estão ligados à região de Santos.

O curioso é que familiares do governador Alckmin e do presidente Lula tiveram problemas com ataques de assaltantes que culminaram com a morte de seus guarda-costas. Integrantes do poder, em São Paulo e em Brasília, não dispensam proteção, como ocorre, por exemplo, com o cantor Gilberto Gil, ministro da Cultura, que trata também de impor vigilantes aos trajetos de sua esposa e de sua filha. Quanto aos simples mortais pagadores de impostos, estes que tratem de ficar em casa, isolados como reféns e, mesmo assim, sob constantes ameaças.

Pelo que se sabe, o governador Alckmin ordenou à polícia a criação de uma força-tarefa para tentar reduzir o número de seqüestros. Que esse grupo especial consiga efetivamente, anular as investidas de seqüestradores. Pés-de-chinelo ou não!

Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

alesp