NA MÍDIA, O SOM DAS PRISÕES - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
22/02/2001 15:18

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O brasileiro é useiro e vezeiro em copiar, repetir. Assim, apenas por modismo, acaba "macaqueando" e reproduzindo coisas grotescas, particularmente se essas coisas vêm do exterior. Tanto pode ser ao cantar determinada música com estribilho pornográfico em inglês... Ou pode ser ao vestir uma camiseta com inscrição que nem ele sabe decifrar: torna-se uma "placa" imoral ambulante.

Não faz muito tempo, tivemos entre nós os meteóricos Mamonas Assassinas, infelizmente vítimas de um acidente aéreo. Fatalidade à parte, suas músicas eram caracterizadas por letras com palavrões à exaustão, não obstante o líder do grupo fosse um jovem proveniente de família evangélica.

A criançada ouvia e repetia a palhaçada do conjunto. E, obviamente, contribuía para difundir ainda mais as letras imorais, para vergonha das famílias mais atentas.

Nas últimas semanas, algumas emissoras de rádio e de TV, sempre atrás de "novidades criativas", nunca importando a qualidade desse "novo", passaram a exibir, em programas populares, conjuntos cariocas funks, com músicas pobres, de verdadeira indigência mental, mas que, pela batida e pela repetição dos refrões, passaram a ganhar adeptos nas cidades paulistas.

A juventude, ignorante em sua grande parcela, pobre de espírito em muitos momentos, passou a pular, a rebolar e a se deliciar com expressões do tipo "tapinha não dói", "tá ligado?", "tá tudo dominado" e tantas outras imbecilidades.

Autores de letras de músicas, em busca de sucesso fácil, mesmo que às custas do

espancamento da língua pátria, montam certas rimas, com termos chulos. Suas

"obras primas" são apresentadas por conjuntinhos nada compromissados com a

arte e muito menos com o bom gosto: passam a se exibir, na TV, ora em trajes primários ou então chamando atenção pelos gestos obscenos.

Voltando às palavras de ordem da atualidade musical na mídia, essa gente só esquece de dizer que tais gírias nasceram dentro das cadeias. O "tá tudo dominado" é o coro que os presos gritam nos dias de rebeliões! O "tapinha na cara" faz parte dos bailes violentos do Rio de Janeiro, que geralmente terminam em brigas entre grupos rivais, resultando até em mortes.

Vale dizer, portanto, que a mídia, ao dar espaço para esses grupos asquerosos e suas músicas modernetes-cafajestes, está fazendo o jogo do inimigo. Chega a doer, quando se vê garotas e rapazes aparentemente de boa formação caindo na gandaia, repetindo refrões cretinos e se requebrando feito imbecis com a mola solta.

De qualquer forma, vale dizer que o crime organizado já tomou conta de vários setores, em especial o domínio do sistema prisional. Ao que parece, agora, a ordem é martirizar e sujeitar a sociedade, como um todo, às suas malandrices. Aonde querem chegar, é previsível: espalhar mais o seu poderio, escravizando a nossa juventude e oficializando a violência.

Tudo isso, tendo a mídia como agente.

A grande preocupação é com esses rumos tortuosos tomados pela mídia: TV deveria ser lazer sadio, cultura, informação, nunca um veículo a serviço do crime.

Deputado estadual, Afanasio Jazadji (PFL) presidiu a CPI que investigou o avanço do crime organizado no Estado de São Paulo

alesp