LEMBRANÇAS DE SARNEY - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
17/10/2001 13:47

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Ao vislumbrar o mover das peças do jogo sucessório é inevitável associar o cenário pré 2002 ao final do governo Sarney. Naquele tempo, a despeito de aspectos extremamente positivos, como o da manutenção da atividade econômica e do nível de empregos, prevalecia o descontrole inflacionário, que ditava o ritmo da incerteza e da instabilidade.

Hoje, apesar de uma certa estabilidade monetária e de inflação baixa, vivemos forte recessão, queda no nível de emprego e aprofundamento da desigualdade social, caracterizada por maior concentração de renda.

O ponto de interseção entre os dois cenários é a falta de candidatos dispostos a defender as atitudes e políticas do governo federal, criando um clima de melancólico fim de festa.

Ao que parece, esse final do governo Fernando Henrique poderá estabelecer um desfecho ainda mais preocupante e desolador. Vide o comportamento dos pré-candidatos do partido do presidente, o PSDB, cuja busca da indicação se dá à luz de um discurso crítico em relação ao modelo econômico atual, com ácidas considerações sobre as decisões cotidianas do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central.

O que outrora era coisa de "jurássicos" e "neobobos" passa a ser verdade para os próprios governistas, que foram fiadores durante oito anos da política econômica e agora tentam se apropriar das teses dos que, como nós, sempre alertaram para o radicalismo neoliberal do governo FHC - simbolizado pelo desguarnecimento do Estado e pela abdicação do papel de formular políticas públicas (industrial, agrícola, etc.) - cuja conseqüência mais grave foi o enfraquecimento do País no concerto internacional e comercial das nações.

Fica um alerta ao presidente Fernando Henrique: "Dê uma guinada nessa malfadada política econômica, seguindo exemplos de gente nada heterodoxa como Alan Greenspan e Joseph Stiglitz, que apostam na reativação econômica, via políticas públicas, como saída para a crise, para que sua herança seja um pouco mais leve para o País".

Parece estranho para um oposicionista fazer considerações dessa natureza. No entanto, faço-as na condição de quem não deseja "o quanto pior melhor" e de quem acredita que o sucesso eleitoral da oposição não passa por um cenário de terra arrasada, mas por teses consistentes baseadas no trinômio estabilidade, desenvolvimento e combate às desigualdades sociais e regionais.

Esta é a postura que têm adotado Ciro Gomes e o PPS, com a consciência de que o nosso País não merece e nem precisaria estar vivendo tais dificuldades.

*Arnaldo Jardim é engenheiro civil, deputado e presidente estadual do PPS

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