Dois anos depois, familiares de jovens assassinados no Carnaval de 99 ainda aguardam julgamento dos acusados


16/02/2001 18:21

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Dois anos após a ocorrência da chacina dos três jovens em São Vicente, os familiares das vítimas ainda aguardam o julgamento dos policiais acusados de praticar o crime. Para marcar a data, uma missa será realizada neste sábado, 17/2, a partir das 15 horas, na Igreja Nossa Senhora das Graças (Praça Nossa Senhora das Graças, 312, Vila Valença, São Vicente).

Segundo a deputada Maria Lúcia Prandi (PT), coordenadora da Frente Parlamentar pelo Fim da Violência Contra Crianças e Adolescentes, as famílias aguardam pela Justiça sem que seja marcada uma data para o julgamento no Tribunal do Júri de Praia Grande. "O passar do tempo desperta a sensação de impunidade e de que os acusados não 'pagarão' pelos crimes cometidos." Para a deputada, esta também será uma oportunidade de não deixar que o caso caia no esquecimento da opinião pública.

"Sabemos que o processo precisa estar com bases sólidas, a partir de provas irrefutáveis, para que não haja risco de os acusados serem inocentados. Mas não podemos deixar que o caso caia no esquecimento", afirma Prandi.

O crime. Dezessete de fevereiro de 1999. Madrugada da Quarta-Feira de Cinzas. Os adolescentes Anderson Pereira dos Santos (14), Thiago Passos Ferreira (17) e Paulo Roberto da Silva (21) saem do baile de Carnaval do Ilha Porchat Clube, em São Vicente, quando são abordados por policiais militares, espancados e colocados com violência no compartimento de presos de uma viatura tipo Blazer, placas BRZ-8774, do Regimento de Cavalaria da PM. É a última vez que eles seriam vistos com vida. Quinze dias depois, os corpos dos três jovens são encontrados, por uma equipe do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), num manguezal, em Praia Grande. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) aponta a causa das mortes: execução com tiros nas cabeças dos rapazes.

Apuração. Desde a ocorrência do crime, a deputada esteve ao lado das famílias, exigindo das autoridades estaduais uma rigorosa apuração do caso. À época, Maria Lúcia intermediou audiências com o secretário estadual de Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi, o secretário-adjunto, Márcio Papaterra Limongi, e com o então ouvidor da Polícia Militar, Benedito Mariano. No dia em que os corpos dos três jovens foram encontrados, a parlamentar estava com as famílias numa reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e foi responsável por dar a notícia da localização dos cadáveres.

"Certamente, foi o dia mais triste de minha vida pública. O desespero dos pais não sai da minha memória", afirma emocionada a parlamentar, lembrando que o caso despertou a atenção da Anistia Internacional e mais de duas mil correspondências vindas de todo o mundo se solidarizaram às famílias e exigiam a punição exemplar dos culpados. A parlamentar também ressalta a eficiência com que as equipes do DHPP, da Corregedoria da Polícia Militar e da Promotoria Pública atuaram na busca de provas que não deixassem dúvidas quanto a autoria do crime.

Acusados aguardam julgamento. Os quatro policiais militares acusados de assassinar os jovens permanecem presos no Presídio Militar Romão Gomes, na capital, enquanto aguardam o julgamento. Os soldados Edvaldo Rubens de Assis, Humberto da Conceição e Marcelo de Oliveira Cristof, e o segundo-tentente Alessandro Rodrigues de Oliveira são acusados de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e abuso de autoridade, todos por três vezes. A pena para cada um dos acusados pode chegar a 99 anos de prisão. Todos já foram expulsos da Polícia Militar e o processo na Justiça Comum corre na 4.ª Vara Criminal de Praia Grande, sob Segredo de Justiça, o que limita o acesso às informações às famílias e aos advogados das partes. De acordo com a deputada Maria Lúcia Prandi, este sigilo foi determinado em função das condições especiais do processo.

(Mais informações, ligue para o gabinete da deputada Maria Lúcia Prandi - 3886-6848/6854)

alesp