O DÍZIMO DE BOVÉ - OPINIÃO

Milton Flávio*
08/02/2001 15:45

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Uma coisa ninguém pode negar: o senhor José Bové é um craque. Líder da Confederação Camponesa da França, criador de ovelhas e formado em Filosofia, transformou-se num agitador profissional, conhecido internacionalmente. Por onde passa, ele faz muito barulho, gera polêmica, cria desafetos e também uma legião de devotos. Sabe como poucos criar fatos (ainda que lamentáveis) e atrair a atenção da mídia.

Em sua recente passagem pelo Brasil, para participar do primeiro Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, José Bové não deixou por menos. Uniu-se a João Pedro Stédile, líder do MST, e participou da invasão - e destruição - de um campo experimental de produção de soja transgênica de uma empresa multinacional, no município de Não-Me-Toque. A aventura foi registrada por todos os meios de comunicação. Ameaçado de ser expulso do País pela sua incivilidade, Bové virou uma espécie de herói nacional das esquerdas sem rumo. Participantes do Fórum, num arroubo juvenil, entoaram o coro "Bové é meu amigo; mexeu com ele, mexeu comigo", para deleite dos cinegrafistas.

O senador pernambucano Roberto Freire, antigo comunista e político ligado às causas sociais, resumiu de forma exemplar a invasão comandada pela dupla Stédile-Bové: "Queimar pesquisa é um gesto reacionário. Não pode estar atrelado à esquerda, que sempre foi ligada ao iluminismo, à vanguarda. Parecem querer pôr fogo no pensamento humano." Em artigo recente, o colunista Arnaldo Jabor teve a coragem de escrever o que muita gente pensa mas não diz, com medo de contrariar o que se convencionou chamar de pensamento politicamente correto: "José Bové é um vagabundo".

Graças à política agrícola adotada pela França - e defendida com unhas e dentes pelo seu líder camponês -, países como o Brasil encontram imensas dificuldades para exportar seus produtos e, portanto, para gerar novos empregos e renda.

Não se trata de negar a importância das manifestações sociais. Elas, quando pacíficas, são legítimas, pois servem para pressionar os governos, os Parlamentos e os diversos organismos internacionais a tomar atitudes que venham a favorecer a maioria da população. Mais: contribuem para a reflexão e a revisão de rumos. O que é inadmissível é o uso da violência. É inaceitável, por exemplo, que gente como João Pedro Stédile continue ameaçando, impunemente, invadir fábricas e destruir plantações, se tais e quais reivindicações do MST não forem atendidas pelo governo em tantos dias. É inadmissível que gente como José Bové se sinta no direito de depredar estabelecimentos comerciais em nome de uma causa que lhe parece justa.

O fato é que agitadores profissionais como Stédile e Bové não estão interessados em resolver problema algum. Ainda acreditam (se é que acreditam mesmo) que será possível alimentar a humanidade na base da enxada e do carro-de-boi. E se sentem muito ofendidos quando, por exemplo, o governo corta verbas de cooperativas agrícolas, várias delas comandadas pelo MST, para impedir que seus dirigentes continuem cobrando o "dízimo" dos assentados. Arnaldo Jabor tem razão.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo.

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