O PAI DA CRIANÇA - OPINIÃO

Milton Flávio*
18/10/2001 10:45

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Os parlamentares estão sob fiscalização permanente da imprensa e, por extensão, da sociedade. Qualquer ato falho que cometam merece páginas e mais páginas de críticas. Não é ruim que seja assim. Muito pelo contrário. É tarefa da imprensa fiscalizar os homens públicos, como também é obrigação do parlamentar andar na linha.

O problema é que se convencionou achar que notícia boa não é notícia - ou melhor, que pode até ser, desde que o autor da iniciativa, em sendo parlamentar, seja omitido. Quase sempre isso ocorre por simples desconhecimento do repórter sobre quem seja o pai da criança. Ninguém é obrigado a saber tudo, muito menos a consultar toda a legislação existente para descobrir quem é o autor dessa ou daquela lei. Levaria dias para produzir cerca de vinte linhas - o tamanho padrão de textos, nos dias de hoje. Às vezes, há, digamos assim, excesso de zelo de quem apura, redige e edita. Com medo de parecer simpático ao parlamentar, o sujeito conta todo o milagre, mas omite o nome do "santo" que o produziu. Resumo da ópera: a impressão que fica para boa parte da população é que o Parlamento não serve para nada, além de produzir escândalos.

Para quem encara a política com seriedade, é sempre gratificante conseguir aprovar suas propostas, vê-las implantadas e trazendo benefícios para a sociedade. Os jornais acabam de noticiar que, por meio de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde e hospitais da rede pública, crianças e adolescentes internados estão recebendo aulas de mestres do "Projeto Educação no Leito". A imprensa também deu conta de que iniciativa semelhante está sendo adotada pela Secretaria Municipal de Saúde. Ainda há muito por fazer. Mas o que importa é que os primeiros passos já estão sendo dados. A partir do próximo ano, os hospitais universitários de São Paulo, ligados à USP, Unicamp e Unesp, darão aos menores internados igual atendimento.

Talvez para o leitor não faça nenhuma diferença as linhas que se seguem. Para mim, no entanto, elas são da maior importância. Como médico e professor, sempre soube que, além da presença dos pais, o apoio educacional aos jovens internados em hospitais por períodos mais longos tem papel fundamental na sua recuperação. Na medida em que contribui para a elevação de sua auto-estima, tal apoio favorece a recuperação e, em geral, diminui o tempo de internação.

Por essa razão, em 1996, apresentei à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo projeto de lei que dispõe sobre o acompanhamento educacional da criança e do adolescente internados para tratamento de saúde. Após anos de discussão, a proposta foi aprovada. Hoje é a lei 10.685, de 30 de novembro de 2000. É motivo de satisfação pessoal saber que uma idéia, já testada e aprovada em outros países, começa a ser incorporada entre nós - ainda que o autor, pelas razões expostas, seja ignorado. Paciência. Não sou o primeiro, nem o único, nem o último.

*Milton Flávio é deputado pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu.

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