Microfone aberto

Opinião
28/04/2005 19:36

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"Ele (Lula) não gosta e não sabe administrar".

A sentença, proferida em artigo recente, é de Villas-Bôas Corrêa, um dos analistas políticos mais importantes e experientes do país, uma referência do jornalismo analítico, a quem não se pode acusar de ser simpático ao PSDB ou a qualquer outro partido.

Infelizmente, o articulista não está sozinho na sua análise. Cresce a cada dia a percepção de que o presidente tem ojeriza a tudo que lembre trabalho organizado e sistemático. Sua praia é outra: viajar, fazer discursos sobre qualquer tema, participar de inaugurações, colecionar suvenires, promover churrascos e peladas na Granja do Torto. Aliás, ele próprio admite que "está presidente", mas que "é líder sindical". Talvez por isso não falte quem acredite que o seu governo se mova, lenta e erraticamente, entre uma greve e outra. O infelizmente acima se justifica plenamente, pois o preço da inapetência aliada à incompetência é pago por nós, especialmente por aqueles que já sentem o medo da desesperança.

Marco Antonio Villa, professor de História da Universidade Federal de São Carlos e autor de "Jango, um perfil", em artigo recentemente publicado, observou: "A agenda de trabalho de Luiz Inácio Lula da Silva causa estranheza e preocupação. Pelos compromissos listados, não se vê um presidente que tenha interesse nos assuntos administrativos, muito menos no estudo e enfrentamento dos grandes e graves problemas nacionais. Atividades são marcadas sem nenhum critério seletivo, como se a ação governamental causasse tédio e enfado ao primeiro-mandatário da República. A agenda de trabalho é pobre, desconexa e em vários dias está quase que totalmente vazia, como se o país estivesse vivendo em pleno céu de brigadeiro".

Villa vai além: "O abandono das tarefas fundamentais de governo fica mais evidente quando consultamos os pronunciamentos públicos do presidente. Em 2003, eles foram 279 e em 2004, 305. Dos discursos, 27% trataram de política externa. Em alguns meses, saltaram para 50%, como em novembro de 2003 e janeiro de 2004. É como se fôssemos uma potência imperial sem o saber. É provável que nem George Bush tenha tratado tanto de política externa quanto Lula. Contudo, continuamos tendo papel irrelevante na política mundial e mantemos inalterada nossa participação no comércio internacional".

Mas o presidente não se abala nunca. Segue sempre altaneiro, crente de que descobriu a pólvora e de que ninguém sabe tanto quanto ele. Talvez por isso, na avaliação do cientista político Paulo G. M.de Moura, Lula tenha conseguido a "proeza de montar uma equipe de ministros que é um deserto de competências e um mar de mediocridades".

*Milton Flávio (PSDB-SP) é deputado estadual e professor da Faculdade de Medicina da Unesp (Botucatu)

miltonflavio@al.sp.gov.br

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