OPINIÃO: MARAVILHA DO HOMEM E DA NATUREZA

Arnaldo Jardim*
30/04/2004 14:58

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A agricultura tem sido a força motriz do superávit na balança comercial brasileira. Em 2003, o agronegócio exportou US$ 30,6 bilhões, gerando um saldo de US$ 25,8 bilhões. E o panorama pode ser ainda mais otimista. O Brasil tem 62 milhões de hectares cultivados e, em 12 anos, poderá ter mais 30 milhões de hectares - além dos 177 milhões de hectares de pastagem. Estive na abertura da 11ª edição da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow) de Ribeirão Preto - a mais importante feira de tecnologia agrícola do País - e lá vi tudo isto refletido de forma efervescente. Homens e mulheres circulando entre novos cultivares e equipamentos, além de centenas de estrangeiros atônitos diante desta maravilha brasileira.

Somos líderes mundiais na exportação de produtos como açúcar, suco de laranja, carne bovina, frango e soja. Mas a busca pelo título de "celeiro mundial" depende, além do empreendedorismo dos nossos agricultores, da solução de problemas históricos enfrentados pelo setor produtivo. Nesse momento, temos de olhar adiante e ver como nos anteciparmos para solucionar esses "gargalos", já há muito conhecidos: escoamento, armazenagem, financiamento e câmbio.

Segundo dados do Centro de Estudos de Logística (CEL), da Escola de Negócios da UFRJ, o transporte rodoviário representa hoje cerca de 60% da carga transportada no Brasil. Enquanto isso, nos EUA essa participação é de 26%; na Austrália, 24%; e na China, 8%. Que a infra-estrutura brasileira para o escoamento da produção é equivocada já sabemos, mas dados recentes da Associação Nacional de Transporte de Cargas (ANTC) merecem ser analisados. De acordo com a entidade, mais de 80% das estradas brasileiras são classificadas como deficientes, ruins ou péssimas. Uma solução para o problema poderia vir da CIDE (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico), mas, dos R$ 2 bilhões que o governo federal arrecadou no primeiro trimestre deste ano dessa contribuição, apenas R$ 70 milhões foram destinados ao setor de transportes. Investimentos na diversificação da malha viária, como ferrovias e cabotagem, também são necessários para garantir maior competitividade para o setor agropecuário exportador.

Outro aspecto que merece atenção está na área de estocagem, um instrumento fundamental para evitar distorções no mercado de commodities, como oscilações bruscas de preços - fator que desestabiliza a produção. Com isso, poderemos realizar oportunas intervenções na comercialização dos principais produtos da pauta de exportação, assim como definir a ampliação ou a redução do cultivo de determinadas culturas.

A criação e a otimização de mecanismos para viabilizar o financiamento da produção podem criar a estabilidade necessária para garantir novos investimentos em maquinário, insumos, pesquisa e infra-estrutura. O aumento dos negócios via CPR - Cédula de Produto Rural, a diminuição das taxas de juros dos programas governamentais, como o Finame Rural, a ampliação de programas bem sucedidos, como o Moderfrota, a maior participação e a melhoria das condições de pagamento por parte dos bancos públicos e privados, além do fortalecimento do papel das cooperativas, são algumas medidas que podem beneficiar, e muito, os ambiciosos planos de expansão da safra brasileira. Não podemos aceitar situações como a do confisco, por parte de empresas privadas, da produção de soja de mais de 100 agricultores paulistas com a justificativa de garantir a entrega do produto.

Assegurar um câmbio favorável para as exportações, com o intuito de aumentar a competitividade dos produtos brasileiros, é uma prerrogativa básica num mercado tão competitivo como esse. Tal medida pode, ainda, incentivar a substituição das importações e aumentar o número de empresas estrangeiras interessadas em abrir filiais no Brasil.

Mas não podemos esquecer das questões políticas que afligem o agronegócio brasileiro. Não podemos compactuar com o clima de terrorismo no campo criado pelo MST. Foram mais de 103 invasões, no chamado "abril vermelho", que muitas vezes penalizaram agricultores de áreas produtivas e a população com a invasão de prédios públicos. Sempre fui favorável a uma reforma agrária profunda neste País, mas não nesses moldes.

Também não podemos abrir mão de lutar contra as barreiras tarifárias impostas pelos países desenvolvidos aos nossos produtos. A bem sucedida decisão da OMC (Organização Mundial do Comércio) em relação ao contencioso brasileiro contra os subsídios norte-americanos ao algodão e a possibilidade do mesmo ocorrer em relação ao açúcar devem ser ampliadas e servirem de premissas nas futuras negociações internacionais.

Investir em agricultura é sinônimo de geração de empregos e renda no campo. O crescimento sustentável dessa atividade produtiva é garantia de um superávit comercial crescente, importante para um País que precisa honrar seus compromissos com os órgãos de financiamento internacionais. Cabe a nós decidir se queremos manter esta nossa maravilha.

Arnaldo Jardim Deputado estadual (PPS-SP)

e-mail: ajardim@al.sp.gov.br

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