São Paulo e o Brasil

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
07/07/2003 18:05

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O barulho da matraca, aparelho de madeira e metal que, ao se mover uma manivela, trazia o assustador som das metralhadoras, há muito se calou. Poucos restaram daquela geração de idealistas de São Paulo que, em 9 de julho de 1932, pegaram em armas em defesa do estado de direito, então ameaçado pela falta de leis e pelos desmandos de Getúlio Vargas, em apenas dois anos de governo. No entanto, os ecos da Revolução Constitucionalista estão mais audíveis do que nunca. Afinal, vivemos, hoje, em uma democracia. O País conta com uma Constituição e com uma estrutura política definida por voto popular, e não mais pelos caprichos do ditador de plantão.

E é justamente pelo respeito à democracia que é bom relembrar a importância do movimento de 1932. O levante paulista contra a ditadura procurava, acima de tudo, trazer a liberdade de volta ao Brasil, com leis que garantissem os direitos dos cidadãos. Foi uma luta árdua e desigual por três meses de combate solitário - o apoio prometido por Minas Gerais e Rio Grande do Sul nunca veio, mas as tropas ligadas à ditadura Vargas, sim. Os paulistas fizeram o que puderam com seu pequeno contingente - 35 mil soldados contra 100 mil do governo - e com a pouca munição disponível. Na falta dessa, entrou em ação a matraca, cujo ruído debelava as tropas inimigas. Mas, por fim, a falta de infra-estrutura e o bloqueio do litoral levou à rendição do contingente constitucionalista, mesmo com o apoio maciço da população.

Essa derrota, porém, ganhou tons de vitória, com a retomada da legalidade. Pouco depois do início da revolta paulista, Getúlio Vargas iniciou o processo que resultou na Constituição de 1934. A deposição de armas, porém, não vergou a espinha dorsal de São Paulo, que direcionou seu espírito combativo para o empreendedorismo. O lema do Estado, "Non ducor, duco", ou seja, "Não sou conduzido, conduzo", manteve-se real em meio às vicissitudes da política. São Paulo ampliou sua importância econômica entrando de cabeça na industrialização e na tecnologia, sendo um dos pioneiros no seqüenciamento genético. É a "Locomotiva do Brasil", uma vez que responde por 34,95% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Conta com orçamento de R$ 54,6 bilhões e 37,6 milhões de habitantes - dos quais 12 milhões só na Capital.

A pujança econômica, porém, tem um preço, com problemas de saúde, desemprego e violência das mesmas dimensões de seu poderio. Mas o Estado conta com o empreendedorismo de seus cidadãos e sua generosidade para resolver essas questões. Neste momento em que o País discute a reforma tributária, define as regras de uma reforma política e redefine a reforma do estado é hora de, mais uma vez, São Paulo estar atento para que tenha a justa posição e o reconhecimento de seu papel relativo. Assim, o exemplo deve ser recordado: é só olhar para a bandeira paulista hasteada para ver o mapa do País em posição de destaque. Isso é uma profissão de fé, de que São Paulo traz o Brasil em seu coração, como foi provado pela Revolução Constitucionalista de 1932.



Arnaldo Jardim é deputado estadual pelo PPS

alesp